RITMOS EM BRASÍLIA
Resumo
Este trabalho sobre Ritmos em Brasília tem como objetivo ganhar e levar conhecimento sobre o que são ritmos em uma edificação, o quanto eles se fazem presentes na capital brasileira e alguns exemplos detalhados. Os meios utilizados para oferecer este conhecimento foram leituras de livros sobre arquitetura e Brasília, interpretação pessoal dos próprios edifícios, conhecimento adquirido ao longo do curso e embasamento nas escolhas do autor do projeto. Desta forma, foi identificado uma parte da cultura arquitetônica moderna brasileira, pensamentos e analises do arquiteto Oscar Niemeyer e foi apresentado exemplos de edifícios que representam os ritmos através de suas linhas.
Palavras-chave: Brasília. Palácio. Oscar Niemeyer.
Kétlin Kamilla Santos Lima Conci¹
INTRODUÇÃO
Brasília passou a ser capital do Brasil durante o mandato de presidência de Juscelino Kubitschek, foi uma cidade planejada desde o início, contou com o projeto de traçado urbano de Lucio Costa. Para complementar todo o poder da cidade, Oscar Niemeyer, um dos arquitetos brasileiros mais renomados da época, ficou responsável pelos projetos arquitetônicos das sedes políticas da capital.
Oscar Niemeyer transmitiu dentro de Brasília todo seu conceito arquitetônico, apresentou uma monumentalidade leve e exclusiva, através do uso do concreto armado obteve linhas delgadas e assim marcando os ritmos em Brasília.
Entende-se de maneira geral que ritmos são movimentos e repetições, dentro da arquitetura o significado não se altera, embora o modo de visualizar é distinto, uma vez que depende da percepção e do olhar sensível do observador. Pode-se observar os ritmos através das simetrias, cheios e vazios, cores, espessuras de elementos, jogo com linhas retas e curvas, formas e texturas.
O presente trabalho trará de forma sucinta as formas plásticas do Palácio do Planalto e o Palácio da Alvorada e citará outros exemplos que se encaixam devidamente a este tema.
OBRAS QUE TRANSMITEM RITMOS
Pode-se encontrar ritmos em quase todos tipos de construções pelo Brasil, porém em Brasília, concentra o maior número de edifícios que transmitem ritmos através de linhas, método raro, uma vez que o objetivo do arquiteto ao projetar era referenciando à épocas clássicas, utilizando de técnicas da época e acima de todos estes, demonstrar a essência destes edifícios, disse Niemeyer (1978, p. 42-43 apud SILVA, 2012, p. 147):
Mas foi em Brasília que minha arquitetura se fez mais livre e rigorosa. Livre, no sentido da forma plástica; rigorosa, pela preocupação de mantê-la em perímetros regulares e definidos. E se fez mais importante, sem dúvida, pois se tratava da arquitetura de uma Capital. Minha preocupação foi caracterizá-la com as próprias estruturas, afinando os apoios com o objetivo de tornar os palácios mais leves, como que simplesmente tocando o chão, e incorporei a arquitetura ao sistema estrutural, permitindo que, terminada uma estrutura, ela também estivesse presente [...]. Integrava-a na técnica mais avançada, no vão maior, nos balanços imensos, nela caracterizando o apuro do concreto armado.
Encontra-se essa arquitetura na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, Palácio da Alvorada, Palácio do Planalto, Palácio Itamaraty, Congresso Nacional, Complexo Cultural da República, Supremo Tribunal Federal, Teatro Nacional, Memorial JK e Museu Nacional Honestino Guimarães, todas de autoria arquitetônica de Oscar Niemeyer e cálculos estruturais de Joaquim Cardoso.
Palácio do Planalto
O Palácio do Planalto é o edifício destinado ao presidente da república, entretanto a morada do presidente já foi no Palácio do Catete (RJ), Palácio da Guanabara (RJ) e o Palácio das Laranjeiras (RJ), sendo esse último um palacete baseado nas casas burguesas francesas, a pedido de Juscelino Kubitschek tornou-se sua residência quando assumiu a presidência do país.
Com o projeto piloto de Brasília veio a acontecer a construção do Palácio do Planalto onde seria então o local de trabalho oficial do governo federal, situado na praça dos três poderes, neste o projeto não teve característica de monumentalidade, uma vez que era a residência do chefe do governo, contudo, Kubitschek aspirava um palácio que fosse lembrado e admirado por anos.
O Palácio foi um projeto de duas versões do arquiteto Oscar Niemeyer, da sua primeira versão (chamado de Palácio Presidencial) para a segunda (oficialmente Palácio do Planalto), a mudança ocorreu apenas nas proporções e dimensões do volume, moderando na largura e expandindo na altura, assim o que era uma planta quadrada tornou-se em uma geometria retangular. As propostas para o palácio personificam o tipo palaciano da arquitetura moderna de Niemeyer para Brasília.
A proposta para o palácio trouxe um térreo recuado com um plano intermediário que recebeu acesso pela rampa, uma caixa de vidro sobre este e acima um plano de cobertura. A estrutura fazia parte da arquitetura de maneira plástica, para o edifício presidencial, os elementos de sustentação foram semicolunas rotacionadas e recuadas que caracterizaram e se tornaram elemento mais evidente do projeto, essa foi a solução de Niemeyer (1959, p. 9 apud SILVA, 2012, p. 274):
Nos palácios de Brasília, a idéia da obra realizada sempre me preocupou durante a execução dos projetos, fazendo com que, ao elaborá-los, também os percorresse mentalmente, buscando fixar-lhes as formas em função desse ponto de vista variável do futuro visitante. Daí certas soluções adotadas para as estruturas, estruturas que se modificam plasticamente em função de diferentes pontos de vista, para assumir aspectos diversos, mais ricos e variados. Essa previsão imaginativa sugeriu, nos trabalhos de Brasília, várias soluções, como, por exemplo, afastar as colunas externas do corpo principal dos edifícios [como no Palácio do Planalto] visando permitir que os visitantes delas se aproximem, que as possam contornar, sentido sua verdadeira escala e o espaço que as cerca - que as separa do edifício propriamente dito - em toda a sua variedade de formas. Evitei as soluções que as colunas - quase ligadas ao corpo principal dos edifícios - impedem a multiplicação do aspecto necessário.
A disposição das colunas produziu equilíbrio assimétrico e um ritmo variado entre os trechos das peças. Oscar conseguiu transmitir a leveza da estrutura a partir da predominância do concreto armado, através das espessuras delgadas das placas, pelas linhas dos elementos de sustentação e harmonia entre uma peça e outra.
Figura 1 – Maquete do Palácio do Planalto
Fonte: Módulo, n.º 10, ago. 1958 apud Silva, 2012, p. 292
Figura 2 – Elevação Oeste do Palácio do Planalto
Fonte: apud Silva, 2012, p. 291
Figura 3 – Elevação Sul do Palácio do Planalto
Fonte: apud Silva, 2012, p. 291
Figura 4 – Colunas de sustentação do Palácio do Planalto
Fonte: apud Silva, 2012, p. 293
As colunas do Palácio do Planalto foram elaboradas de maneira que tornasse o edifício uma unidade com o Palácio do Supremo Tribunal Federal.
Palácio da Alvorada
O Palácio da Alvorada, designado a Palácio Residencial, situado em um complexo independente da praça dos três poderes, uma que vez tornaria morada oficial do presidente. A proposta para o projeto foi uma busca de entregar um edifício residencial, porém monumental, seguindo a proposta de palácio do atual arquiteto.
Com a presença de uma capela no projeto da residência, o arquiteto associa o seu projeto ao passado, como eram as casas de fazenda, diz Niemeyer (2000, p. 39) “E o palácio sugeria coisas do passado: o sentido horizontal da fachada; a larga varanda, sem peitoril, situada a um metro acima do chão, protegida por uma série de colunas; e a capelinha a lembrar no fim da composição nossas velhas casas de fazenda”
Figura 5 – Fazenda Colubandê e Palácio da Alvorada
Fonte: Sanches, 2005, p. 342 apud Silva, 2012, p. 192
Assim como no Palácio do Planalto a harmonia e ritmos eram imprescindíveis, a escolha da forma para a nova coluna foi especialmente para a composição e harmonia geral, essa que foi efeito de uma evolução da coluna do primeiro palácio. A tripartição do edifício mais uma vez foi em busca de um resultado de sequencias e equilíbrio, passando por cheios e vazios. Niemeyer deixa seu relato de estudo sobre esta nova forma (NIEMEYER, 1957, p. 21 apud SILVA, 2012, p. 181):
Dedicamos às colunas, em virtude disso, a maior atenção, estudando-as cuidadosamente nos seus espaçamentos, forma e proporção, dentro das conveniências da técnica e dos efeitos plásticos que desejávamos obter. Estes nos levaram a uma solução de ritmo contínuo e ondulado, que confere à construção leveza e elegância, situando-a como que simplesmente pousada no solo.
Figura 6 – Estudo da forma da coluna
Fonte: apud Silva, 2012, p. 191
Figura 7 – Fotografia Palácio da Alvorada
Fonte: Brasil, 2008 apud Silva, 2012, p. 451
Vale apontar que a capela presente no conjunto tem forma de casca, resolvida em uma planta de curvas, assim como os palácio, é exemplo dos ritmos que enaltecem Brasília.
Figura 8 – Capela do Palácio da Alvorada
Fonte: Gomes, 2011 apud Silva, 2012, p. 459
CONCLUSÃO
Com base no que foi apresentado é certo dizer que os edifícios de Brasília representam muito bem os ritmos, o arquiteto conseguiu transmitir isso de forma clara e objetiva através de estudos de formas plásticas e leves. Na maior parte dos exemplos, os ritmos foram apresentados em forma de linhas curvas e delgadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FILHO, N. G. R. Quadro da Arquitetura no Brasil. 21. ed. São Paulo: Perspectiva, 2006
NIEMEYER, O. Minha arquitetura. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2000
SILVA, E.G. da. Os palácios originais de Brasília. Virtual Book, 2012. Disponível em: <https://repositorio.unb.br/handle/10482/11159?mode=full&submit_simple=Mostrar+item+em+formato+completo&utm_medium=website&utm_source=archdaily.com.br>. Acesso em 23 jul. 2020
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