O DELICIOSO, SAUDÁVEL, LUMINOSO AMBIENTE



Palavras-chaves: Luz. Conforto luminoso. Iluminação natural e artificial.
Polyana Riva da Silva

O conhecimento sobre a quantidade de luz e a percepção de luminosidade em um ambiente é pouco popular entre os arquitetos e técnicos de iluminação, sendo a maior parte desqualificados em definir se um ambiente está mal iluminado ou se as cores das paredes ali existentes tornam o ambiente mais escuro. Sendo assim, a iluminação do ambiente é feita de modo mais geral, esquecendo que cada função ou trabalho necessita de uma certa quantidade de luz.
Para Lam (1986, p. 9) os profissionais devem aprender a trabalhar com os olhos e com o cérebro para não dependerem sempre de instrumentos, mas sempre se preocupando com os efeitos que a luz tem sobre a saúde dos seres humanos, sobre as plantas e sobre o conforto térmico.

1. VISIBILIDADE
O olho humano é capaz de perceber diferentes intensidades de luz, mas quando a intensidade de luz é grande surge o problema do encadeamento que causa incomodo a visão, mas se a intensidade de luz for baixa em um certo ponto do cômodo pode torna-lo sombrio, tendo a necessidade de equilíbrio das intensidades das luzes.
O ângulo que essa luz atinge o usuário ou o ambiente de trabalho do usuário pode ser um problema, pois podem causar reflexos incômodos, como no exemplo de Lam (1986, p. 10) que todos já tiveram a experiência de precisar mudar a localização da televisão para eliminar os reflexos incômodos que a luz faz na tela. Lam (1986, p. 12), exemplifica muito bem como deve ser projetada uma iluminação:
A propósito, a estratégia de proporcionar uma iluminação geral agradável combinada com a iluminação de tarefas é muito mais económico do que tentar aumentar o nível geral de iluminação. O conforto dos ocupantes que não estão a realizar tarefas críticas irá ser maior se não forem sujeitos a níveis excessivos de luz e de ofuscamento fontes de luz.

2. PERCEPÇÃO
A iluminação é uma ótima fonte para enfatizar o que queremos que as pessoas vejam, chamando atenção a um determinado lugar ou objeto, então esse deve ser o foco, qualquer coisa que interfira pode ser considerada como ruído visual. Lam (1986, p. 12) diz que “por isso, devemos iluminar o que queremos ver, seja uma tarefa ou uma agradável área de repouso.”

3. BRILHO
A nossa percepção de brilho é muito rasa, sendo que as arestas e as formas são percebidas através das alterações na taxa de variação da iluminação.
Para nós a variação da luz solar durante o dia é normal e imperceptível, por ser algo natural, mas se uma iluminação artificial variar pode se tornar algo perturbador ou relevante chamando atenção para algo que está para acontecer, como o fim do intervalo em um teatro.

4. NATUREZA RELATIVA DA LUMINOSIDADE
Segundo Lam (1986, p. 13):
A característica dominante da visão humana é a adaptação. Tudo o que vemos é referido a um nível de referência, seja de luminosidade, escuridão ou cor, e nós fazemos a nossa interpretação em termos deste nível de referência. Todo visual tem experiência em alguma base no passado ou no presente conhecimento.
A nossa carga histórica influência muito no modo como vemos um ambiente ou determinada iluminação que há nela.

5. CONTRASTE DE ABERTURAS
Muitas vezes a diferença de iluminação entre um ambiente e outro passa desapercebido quando não se tem um forte contraste entre eles, mas se houvesse uma pequena abertura em um ambiente escuro ficaria evidente a diferença de iluminação.

6. BRILHO E CINTILAÇÃO
De acordo com Lam (1986, p. 13) “o dicionário Webster define o brilho como uma interferência na percepção visual causada por uma fonte de luz brilhante ou reflexo, e cintilação como um brilho atrativo”. Sendo assim a iluminação natural, advinda do sol por ser agradável, é considerada cintilante e a iluminação artificial de mesma intensidade é considerada brilhosa.

7. CÉU E LUZ SOLAR NUBLADOS
Para Lam (1986, p. 13):
Percebe-se um céu claro como agradável e um céu não uniforme, nublado, ou parcialmente nublado como interessante, ao passo que um céu sólido e encoberto é visto como "monótono". Por ser desinteressante, o céu uniformemente encoberto é susceptível de ser visto como brilhante e "demasiado brilhante", mesmo quando a sua luminosidade é muito inferior à da paisagem iluminada pelo sol ou do céu azul.

8. TRISTEZA
A tristeza vem através da pouca iluminação, da escuridão e até mesmo das sombras no objeto a ser observado. Às vezes não há tristeza em um ambiente com essas características, mas se houver uma base de comparação, com uma janela aberta, o ambiente automaticamente, parecerá mais triste e até mesmo sombrio.

9. ESCURIDÃO
Com base na comparação um objeto pode ser considerado escuro em comparação com o céu em um dia nublado, assim como um objeto projetando sua sombra é considerado mais brilhante que o céu em um dia de sol mesmo o céu estando mil vezes mais brilhante, e também pode ser visto a noite, quando a rua está mais brilhante que o céu.

10. MONOTONIA
Para tornar algo monótono em algo interessante não basta colocar mais iluminação e sim acrescentar cores e sombras, tornando-o assim mais dramático e menos monótono, pois algo importante não pode ser monótono.

11. RESUMO - VISIBILIDADE E PERCEPÇÃO
Como já vimos anteriormente, já sabemos que cada função tem uma necessidade de iluminação especifica, assim como cada pessoa e ambiente tem necessidades de informações especificas. E que devido à base de comparação uma sala a noite pode ser considerada mais brilhante do que uma sala de dia, pois se tem o conhecimento das condições exteriores da sala.
A nossa carga histórica também afeta o modo como vemos determinadas coisas, como Lam (1986, p. 15) diz: 
O nosso julgamento é alterado por aquilo que esperamos que seja brilhante num dado ambiente, em determinadas condições, para uma determinada atividade. Um mural não iluminado, localizado como um ponto focal óbvio numa sala, pareceria escuro porque esperamos que fosse iluminado. Um candelabro num teatro parece sempre demasiado brilhante, mesmo mal iluminado durante a apresentação, embora não demasiado brilhante em plena intensidade durante o intervalo.
O designer pode prever as necessidades e determinar onde e o que se quer dar a devida relevância e assim tornar o ambiente confortável e com um nível previsível de iluminação dos possíveis utilizadores.

12. O AMBIENTE LUMINOSO
Um "bom" ambiente visual é aquele que satisfaz a informação visual necessária dos ocupantes. Um “mal” ambiente visual é o que possui ruídos e informações desnecessárias, pois esses ruídos distrai o usuário do que realmente importa.
De acordo com Lam (1986, p. 16):
Em um dia nublado, o foco é dominado pelo brilho, mas uniforme e desinteressante quando se quer realmente olhar para a paisagem e pessoas para obter informações relevantes para a sua atividade, interesse ou sobrevivência. Os dias ensolarados são mais confortáveis porque os objetos de interesse relacionados com o solo são relativamente brilhantes e a maioria são fáceis para ver.

13. NECESSIDADES DA ATIVIDADE EM TERMOS DE INFORMAÇÃO VISUAL
É importante analisar e anotar quais atividades terão em cada ambiente e classificar as ações em prioridade e frequência.
Lam (1986, p. 17) exemplifica a classificação da seguinte forma:
ESPAÇO: sala de conferências;
ATIVIDADES: palestra, debate, demonstração e audiovisual;
SUBATIVIDADES: ouvir, música, movimento e relaxamento;
SUBATIVIDADES VISUAIS: olhar para rostos, gestos, roupas e imagens projetadas;
NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO: as mesmas que as subatividades visuais.

14. NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO BIOLÓGICA
Antes de iniciar uma atividade é necessária uma visão geral para obter as informações necessárias, como atividades ativas (andar ou correr) e atividades inativas (proteção contra ataques físicos).
Necessitamos manter um sentido de equilíbrio. Esperamos ser iluminado determinado ambiente, por exemplo uma praia, esperamos que esteja ensolarada, quando vemos que esta nublada nos sentimos desconfortáveis, pois a necessidade biológica não foi atendida.
Conforme disse Lam (1986, p. 20):
Existem claramente necessidades de informação que monitorizamos contínua e inconscientemente em zonas bem definidas. Estas incluem:
- Localização, no que respeita a água, calor, alimentação, luz solar, fuga rotas, destino, etc;
- Tempo e outras condições ambientais que se relacionam com as nossas rotas externas horários, bem como aos nossos relógios biológicos inatos;
- Meteorologia, uma vez que está relacionada com a necessidade de vestuário e aquecimento ou arrefecimento, a necessidade de abrigo, oportunidades para aproveitar os benefícios raios de sol, e assim por diante;
- Recinto, a segurança da estrutura, a localização e a natureza dos controles ambientais, proteção contra o frio, o calor, a chuva e outros elementos;
- A presença de outros seres vivos, plantas, animais e pessoas.
- Território, seus limites e meios disponíveis dentro de um determinado ambiente para a personalização do espaço;
- Oportunidades de relaxamento e estimulação da mente, do corpo, e sentidos;
- Locais de refúgio, abrigo "em tempo de perigo percebido".
Quando estamos dentro de uma sala durante o dia esperamos que ao ver por uma janela encontremos um ambiente mais brilhante, igualmente a noite, esperamos que esteja mais escuro, subconscientemente, mas quando de dia vemos por uma janela o nosso próprio reflexo acaba se tornando algo deprimente, por isso muitas pessoas sofrem da “síndrome do dia curto”, pois a necessidade biológica não está sendo atendida.
Em determinadas situações a luz solar é muito bem vinda, como quando estamos em uma piscina ou em um dia frio de inverno, mas em certas situações ele acaba se tornando incomodo para atividade a ser realizada.
É ótimo poder ver e sentir a luz solar dentro dos edifícios, desde que não nos cause incomodo durante as atividades onde não é possível se afastar dele.
Um ambiente de trabalho se torna muito mais interessante e agradável quando é o ponto mais iluminado, sem ruídos visuais.
O nosso reflexo em uma janela durante a noite, para Lam (1986, p. 22) “não é ameaçadora, mas é uma fonte de perigo possível, uma vez que podemos ser vistos através dela, mas não consegue ver o exterior.”

15. LUZ E SAÚDE BIOLOGICA
Sem dúvidas o ser humano necessita de vitamina D, muito benéfica para a reposição de cálcio no corpo humano, diminuindo as chances de raquitismo em crianças e osteoporose em adultos. Também há a radiação ultravioleta disponíveis em iluminação artificial, Lam (1986, p. 23) expõe que oito horas de exposição a 100 velas de pé é o valor aproximado de equivalente a três minutos passados ao ar livre, num dia de sol. Lam (1986, p. 23) diz que:
Iluminação artificial de alto nível em edificações poderia ser benéfica, mas é muito mais fácil otimizar luz natural, sempre que possível. Solários que tiram o máximo proveito da luz solar disponível poderiam ser necessários em certas instalações; varandas poderiam ser exigidas nos lares para os idosos; e mesmo a população poderia ser encorajada a passar mais tempo ao ar livre durante o dia. O solário seria muito eficaz e agradável, fornecendo vários milhares de velas de pé para aqueles que não podem obter luz solar durante a maior parte do ano. É claro que seria muito mais fácil se pudesse obter alguns minutos de luz solar em vez de horas de iluminação artificial de intensidades mais baixas.

16. LUZ E OS OLHOS
De acordo Lam (1986, p. 23) a exposição a luz pode prejudicar os olhos de diversas formas, de acordo com a natureza e intensidade da fonte e a duração da exposição. Mas nosso instinto nos protege automaticamente deixando os olhos entreabertos ou fechados. Ao contrário do que muitos pensam, e é mostrado na literatura a baixa intensidade de iluminação não prejudica os olhos.

17. LUZ PARA O CRESCIMENTO DAS PLANTAS
Em grandes edifícios, para gerar contato do usuário a natureza, são locadas plantações, geralmente em átrios onde há bastante incidência de luz, pois a quantidade de luz que uma planta necessita pode ser muito maior do que o ser humano.
A necessidade de luz que cada edificação precisa é diferente, da mesma forma entre uma residência e um escritório. Nas residências, segundo Lam (1986, p. 26):
(...) maior esforço no design solar é armazenar calor para utilização quando a luz solar não está presente. O efeito instantâneo da luz solar é menos importante porque as casas estão geralmente menos ocupadas durante o dia do que nos edifícios de escritórios. Além disso, as pessoas são livres para se deslocarem para os locais mais confortáveis com menos luz. O projeto solar residencial é principalmente o de solar-térmico-económico.
Já nos escritórios a iluminação deve ser diferente, e Lam (1986, p.26) fala que:
(...) a necessidade de iluminação e conforto térmico são simultâneas, e os ocupantes estão menos livres para se deslocarem. Aqui, deveria haver mais preocupação quanto aos efeitos instantâneos da radiação solar no conforto, bem como na conservação de energia de uma boa concepção solar passiva.
A luz solar direta em escritórios, no inverno, pode ser benéfica, já durante o verão não.






REFERÊNCIAS
LAM, William. Sunlighting As Formgiver for Architecture. ed. Van Nostrand Reinhold,1986.

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