AS CASAS COLONIAIS: RURAIS E URBANAS



Palavras-chaves: Casas coloniais. História brasileira. Brasil colonial.
Polyana Riva da Silva

Por ser tudo muito novo para os estrangeiros esse tema possui certa notabilidade. Haviam prós e contras durante essa época, pois haviam uma grande variedade de recursos no meio ambiente, mas em compensação faltava mão de obra especializada, ferramentas, instalações apropriadas e pouca comunicação.
O partido arquitetônico nas casas rurais era desuniforme, porém nas cidades houve uma maior lealdade as decisões portuguesas. O descaso fez com que grande parte das casas rurais dos primeiros dois séculos, não existam mais, tendo somente os relatos dos velhos cronistas como conhecimento de como eram essas casas.

1.      CASA RURAIS
A falta de uniformidade das casas rurais se deu por causa dos modelos terem que ser adaptados as condições do local, do usuário e da mão de obra, assim a arquitetura vernacular dos portugueses se tornou diferente da arquitetura vernacular brasileira, principalmente na área rural. Não se pode negar que houve uma certa uniformidade nas soluções adotadas, mas somente na arquitetura bandeirante.

Figura 1 – Sitio Padre Inácio.

Fonte: IPHAN (2014).
1.1  Engenhos
Através das pinturas e gravuras pode se observar as separações das construções, estando elas espalhadas pelo terreno, o que se repete por algumas partes do território brasileiro, influência essa da tradição nortista de Portugal e dos costumes indígenas para solucionar os inconvenientes do clima quente e seco.
O brasileiro possuía relação com os escravos africanos, tanto que as atividades ficavam todas sob um único telhado, ao contrário do que os portugueses acreditavam. Quando ocorria de as construções estarem dispersas pelo terreno é porque a ocupação se deu aos poucos.
As construções sob um telhado único não tem uma única justificativa, podem ter sido feitas por falta de conhecimento dos costumes sociais, por causa do nível social e poses do individuou ou até mesmo de engenhos tocados pela própria família com ajuda de poucos escravos, assim ocorria das construções (casa da morada, a capela, os quartos de hospedes e o engenho de açúcar) ficarem sob um único telhado.

1.2  O alpendre
Lemos (1989, p. 27) considera o alpendre um elemento muito importante da composição arquitetônica, por ter uma vasta propagação por todo território brasileiro, e defende ter sido reinventado aqui no Brasil desde o começo. Também explana o que é alpendre:
 (...) é o telhado que se prolonga para fora da parede mestra da casa e que é apoiado em sua extremidade por colunas, tendo como função precípua fazer sombra a construção, evitando que se acumule na alvenaria o calor do sol – refrescando, assim, os interiores.
Há muita confusão para a diferenciação entre varanda e alpendre e Lemos (1989, p. 28) elucida muito bem o que é uma varanda:
(...) totalmente aberta para o exterior, possuindo, no máximo, um peitoril ou guarda-corpo, às vezes é chamada erroneamente também de alpendre. Não é alpendre justamente porque sua cobertura situa-se atrás das paredes mestras – não passa de um cômodo da construção simplesmente desprovido de sua parede externa. Essa acomodação nada tem a ver com o calor ou com o sol. No tempo dos bandeirantes, chamava-se corredor devido precisamente à sua função distribuidora, pois, para ela, abriam-se várias portas.
Rumores dizem que o alpendre sombreador de paredes veio da índia, após o portugueses terem percebido o conforto ambiental que ele proporcionava, porém não se tem certeza, a única coisa que se tem certeza é que, segundo Lemos (1989, p. 29), “desde o começo nossas casas rurais coloniais necessitaram de um espaço aberto para receber estranhos, para abrigar hospedes, talvez até para proteger temporiamente da chuva produtos da colheita em processo de beneficiamento no terreiro.”
O alpendre só na frente ou rodeando a construção servia para diversas coisas, como visto anteriormente, e também servia para visitantes assistirem as cerimonias religiosas, pois em hipótese alguma os hospedes frequentavam o interior da morada, que era uma necessidade da família. E quando as construções eram em sobrados o alpendre ou a varanda possuía escada externamente.
Na figura seguinte é possível ver a diferença entre varanda e alpendre, sucessivamente:

Figura 2 – Varanda e alpendre.

Fonte: Oliveira (2010).

Alpendre é o nome da construção anexa a casa; varanda é um refrescante local de lazer, de estar, na casa tropical. Um alpendre pode vir a ser uma varanda, mas nem toda varanda é alpendrada. (...). Comumente varanda passou a designar a sala de jantar, isso a partir dos meados do século XIX, pelo menos em São Paulo. É que nesse estado, no tempo colonial, quase sempre nas casas urbanas a cozinha e o local das refeições eram situadas num alpendre profundo olhando para o quintal e essa varanda alpendrada, com o tempo, recebeu um vedo, às vezes envidraçado, que a transformou em sala – daí a sala de jantar chama-se a partir disso “a varanda”. Ou, simplesmente, a tradição continuou a chamar de varanda qualquer lugar em que a família estivesse comendo e permanecendo em tertúlias à volta da mesa.

2.      CASAS URBANAS
Por falta de documentação eficiente muita coisa se perdeu no tempo, como suas particularidades e costumes domésticos. Mas graças aos velhos inventários e exemplares remanescentes, ainda é possível ter uma noção de como funcionavam, mesmo estando alteradas por conta de reformas.

2.1  Divisões internas
As casas possuíram praticamente a mesma planta, mas com técnicas construtivas diferentes pois os terrenos eram estreitos e profundos sendo essas casas geminadas. De acordo com Lemos (1989, p. 32):
Assim, todas as moradias possuíam cômodos encarreirados. O da frente, com janela no alinhamento da rua, quase sempre era a sala de recepção, quando não abrigavam alguma oficina de artesanato ou mesmo uma loja. Os cômodos intermediários, acessíveis por corredor lateral, eram os dormitórios, naquele tempo chamados de camarinhas, alcovas ou ‘casas de dormir”. Nos fundos, fechava a fila a cozinha, a varanda alpendrada que dava acesso ao quintal, onde sempre havia um arremedo de instalação sanitária. Nos locais onde o lençol freático era profundo, havia a possibilidade de “sumidouros’, buracos em cima dos quais era instalada a “casinha”, também chamada de “secreta” ou sentina.
Os sobrados eram comuns em cidades ricas ou que passaram por um momento de riqueza. Eram de propriedade de comerciantes ou famílias ricas, que ligavam mais para o quantitativo do que para o qualitativo, então a grande maioria eram enormes.

2.2  Sobrado
Quando o terreno era inclinado naturalmente surgia um piso inferior, chamado de porão ou, como se dizia antigamente, sobrado. Lemos (1989, p. 33) disse que “eram contingências, se assim podemos dizer. Resultavam mais de terrenos ruins: estreitos e em declive. Não eram premeditados. Simplesmente resultava.” Então nem sempre eram de pessoas ricas ou inacessíveis aos pobres.

Figura 3 – Museu Casa do Anhanguera.

Fonte: Barretta (2015).

Interessante que em algumas cidades esses sobrados seguiam a fachada portuguesa, mas por causa do clima elas sofreram adaptações na fachada posterior, que permitiam uma maior ventilação, então quem visse o sobrado de frente jamais imaginaria como eram nos fundos do mesmo.
Outra adaptação que se deu foi revestimento em azulejos, pois a cal usada como revestimento era de má qualidade, assim as paredes sempre estavam úmidas.
Desde modo o Maranhão e o Pará ficaram conhecidas e famosas por esses azulejos que eram multicoloridos e imponentes que, de acordo com Lemos (1989, p. 34):
(...) conservando todo aquele zoneamento: térreo e sobreloja para o comercio, depósitos, dormitório de empregados e guarda de veículos de tração animal. Andares elevados (ou sobrados) para a família. A cozinha, às vezes, era no rés do chão, outras vezes no primeiro andar. Nem sempre havia escada de serviço. As dependências familiares eram sempre acessíveis a corredores ou varandas providas das mencionadas venezianas que favoreciam um permanentemente conforto ambiental.

2.3  No Recife
Recife possui uma fisionomia peculiar por ter sobrados estreitos e altos, como na figura a seguir, consequência do alto adensamento populacional que veio através das companhias gerais do comércio e da produção açucareira.

Figura 4 – Sobrados de Recife.

Fonte: Motta (2010).

Acredita-se que esses sobrados teriam tido influência holandesa, contudo ainda com origem portuguesa. Esses sobrados podiam ter de três a cinco pavimentos, segundo Lemos (1989, p. 35) a divisão desses pavimentos se dava da seguinte forma:
No térreo, sempre o comércio. No primeiro pavimento elevado, escritório e, às vezes, acomodações para caixeiros. Daí em diante, debaixo para cima, os andares tinham atribuições assim encadeadas nesta ordem certa: área de receber visitas ou estranhos, áreas das alcovas para o repouso familiar, área de estar íntimo, onde se comia e, finalmente, arrematando a construção, a cozinha. Somente no sobrado recifense é que encontramos a cozinha no ultimo pavimento, às vezes, no sótão. Trata-se de uma evidente solução aconselhada pelo calor tropical unicamente possível pela existência do escravo trabalhando dentro de casa.

2.4  Na Bahia
Foi na Bahia que foram construídos os sobrados mais suntuosos, pois como era capital da possessão portuguesa ela era muito rica. Pela primeira vez no brasil a arquitetura residencial tenta se igualar a arquitetura religiosa. Por todo litoral, durante a colonização, não havia muito interesse na arquitetura residencial, eram sempre bem modestas.

2.5  No Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro e Parati sempre tiveram uma arquitetura bem modesta, mas tudo mudou depois da descoberta de ouro em Minas. Pra Lemos (1989, p. 38):
A primeira a se beneficiar foi Parati, porque o acesso as minas eram feitas por ali. Parati conheceu certo esplender, mas não ganhou nenhuma construção particular significativa. (...). Ganhou sobrados de algum interesse, muitos ostentando decoração em relevo baseada em desenhos geométricos, de modo especial nos cunhais e cimalhas, decoração que marca um regionalismo e que talvez tenha se definido ainda no tempo do ouro.
A mudança de arquitetura do Rio de Janeiro ocorreu mesmo quando se tornou a nova capital da colônia, deste modo as construções se tornaram mais requintadas por causa dos comerciantes ricos e da posição política assumida pela cidade.

2.6  São Paulo e Minas Gerais
A taipa de pilão é uma característica das construções paulistana, que consiste na técnica de terra pisada entre taipa, assim erguendo paredes continuas, que segundo Lemos (1989, p. 41):
(...) extremamente sensíveis a umidade, de insignificante resistência à tração e de difícil revestimento à vista de sua superfície frágil ao risco. É própria dos lugares pobres, pobres não só economicamente, mas também carentes de materiais de construção como a cal, a pedra, o tijolo e carentes de técnicas apropriadas à madeira vista como elemento estrutural.
Por esse motivo as casas dos bandeirantes são baixas, com paredes grossas que possuem pequenas aberturas que funcionam como janelas e grandes beirais para proteger as paredes das águas pluviais. Em geral as casas urbanas de Minas são as que possuem mais uniformidade, tanto na técnica de construção quanto no planejamento.

REFERÊNCIAS

BARRETTA, Z. 'Raízes': Santana de Parnaíba tem 209 construções tombadas. UOL, 8 nov. 2015. Disponível em: http://especial.folha.uol.com.br/2015/morar/alphaville/2015/11/1703281-raizes-santana-de-parnaiba-tem-209-construcoes-tombadas.shtml. Acesso em: 27 jul. 2020.

IPHAN. Sitio Padre Inacio – Cotia (SP). IPHAN, 2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/sp/galeria/detalhes/461/. Acesso em: 27 jul. 2020.
LEMOS, C. História da casa brasileira. Ed. São Paulo: Editora Contexto, 1989.
OLIVEIRA, A. O alpendre. Crônicas, etc, 5 nov. 2010. Disponível em: http://anttoniocronica.blogspot.com/2010/11/o-alpendre.html. Acesso em: 27 jul. 2020.

MOTTA, L. Recife. Lugares cenário de cores, 7 set. 2010. Disponível em: http://www.lugares-cenariodecores.com/2010/09/recife.html. Acesso em: 27 jul. 2020.


Comentários

Postagens mais visitadas