REAL FORTE PRÍNCIPE DA BEIRA: CONSTRUÇÃO E FUNÇÃO HISTÓRICA
Autor: Tainá Sousa Oliveira
Revisor: Joicy Wevilin Vakiuti de Souza
1. Território
Em meados do século XVI, posteriormente ao tratado de Tordesilhas de 1494, não tardaram as explorações na região, hoje pertencentes ao Centro-oeste brasileiro, Portugal e Espanha. Definem suas áreas e núcleos de ocupação respectivamente na América do sul, partilhados pelo tratado em questão.
Durante o reinado de D. José I em Portugal, o estadista e figura de destaque Sebastião José Carvalho e Mello de nome popular “Marquês de Pombal”, lançam as bases a serem colonizadas na Amazônia, sendo assim criada a capitania do Mato Grosso em 1748 e um grande número de fortes e fortins para demarcação dessas terras (TEIXEIRA, 2009).
O Fortim de Nossa Senhora da Conceição, construído para proteger as terras portuguesas, tem sua estrutura destruída em decorrência de uma grande enchente do rio Guaporé em 1771. No ano seguinte, mesmo com a reconstrução do Fortim e mudança de nome para Forte de Bragança, o mesmo foi abandonado, dando então enfoque a um novo projeto de substituição próximo ao local.
2. A Fortificação e construção
Por ordem do rei de Portugal Dom José I, o Real Forte Príncipe da Beira foi erguido á margem direita do rio Guaporé, projetado pelo ajudante de infantaria e engenheiro genovês Domingos Sambucetti, inspirado na arquitetura francesa militar (PAULA, 2015).
O projeto é composto por uma fortificação locada em terreno estratégico de modo a disfarçar as reais dimensões de altura, além de facilitar a visão de possíveis embarcações que pudessem invadir as terras da coroa. Possui cerca de 10 metros de altura na muralha externa de proteção (Cf. Figura 1), 970 metros de perímetro e paredes em torno de 1,5 metros de espessura. Inteiramente erigido em cantaria (Cf, Figura 2) - técnica de construção que utiliza de rochas - neste caso os blocos eram cozidos.
Figura 1 – A esquerda: muralha principal de proteção; A direita: canhão de baluarte.
As rochas utilizadas foram trazidas de cidades como Belém e Corumbá, pelos rios Amazonas, Madeira e Guaporé percorrendo cerca de 1000 km até o local da construção, que contou com a mão-de-obra de cerca de 1200 homens em sua maioria escravos trazidos de Belém e Rio de Janeiro (TEIXEIRA, 2009).
Figura 2 – À esquerda: parede em cantaria; À Direita: detalhe de um pilar.
A planta é composta em plano quadrangular (Cf. Figura 3), possui quatro baluartes nos ângulos armados de 14 canhoneiras. O interior da edificação é composto por 14 edificações: residências para oficiais e soldados, depósito, cisterna para abastecimento emergencial e uma capela destinada a N. Senhora da Conceição (PAULA, 2015).
Figura 3 – Planta de locação do forte príncipe da beira.
Fonte: Paula, 2015.
Ao redor do forte, um profundo fosso escavado permitia que o acesso fosse feito apenas por meio de uma ponte levadiça, levando o usuário à porta de entrada principal a cerca de 3 metros de altura do chão (Cf. Figura 4). Segundo Edgley Pereira de Paula, o fosso escavado permitia que as águas do rio Guaporé pudessem adentrar ao redor da edificação criando uma barreira que dificultasse o acesso, e ainda segundo o autor, acredita-se que no interior existam duas passagens subterrâneas para fuga com saída no rio Guaporé.
Figura 4 – Acesso principal por porta elevada e detalhe do frontão
Fonte: Acervo do autor.
Detalhes importantes do complexo como alinhamento das janelas de edificações em um mesmo seguimento (Cf. Figura 5) facilitavam a visibilidade interna em caso de ataques e principalmente a ventilação entre os blocos. As portas de entrada que ultrapassam 2,5 metros de altura, em sua maioria apresentam detalhe esculpido em pedra, em seu topo há simbologia que remete aos líderes das igrejas católicas no seu período de construção. Masmorras que possuem teto abobadado apresentam janelas abertas com grades de ferro (TEIXEIRA, 2009).
Figura 5 – A esquerda: janelas alinhadas a direita: detalhe de entrada das masmorras
A obra entra em esquecimento após a proclamação da república em 1889, desta forma a última guarnição responsável pela administração do forte não recebe mais recursos financeiros e assistência militar para mantimento do local, a partir deste fato se dá o completo abandono e o complexo entra em ruínas (NASCIMENTO, 2013).
De acordo com Silvio Melo do nascimento (2013), a redescoberta do local se dá em 1914 durante uma expedição em que Rondon constata o abandono da edificação bem como a depredação e furto de peças. Em 1930 Rondon insiste que haja atividades do exército brasileiro em torno do forte o que ocorre em 1937 com a instalação do 7º Pelotão de Fronteira, no mesmo ano em 30 de novembro ocorre o tombamento do complexo.
REFERÊNCIAS
NASCIMENTO, Sílvio Melo do. Real forte príncipe da beira: História e estórias do imaginário popular no Vale do Guaporé. Revista Labirinto, n. 18, p. 116, jun. 2013.
PAULA, Edgley pereira de. O real forte príncipe da beira como “lugar de memória” luso-brasileira. Mama Sume, Lisboa, n. 78, p. 82-87, dez. 2015.
TEIXEIRA, Paulo Roberto Rodrigues. Forte Príncipe da Beira. Dacultura, Rondônia, n. 4, p. 46-49, 2009.
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