Arquitetura do Ferro e o Art Nouveau: introdução histórica

Autora: Geisisclaudi Campos
Revisora: Franciele Pereira Fernandes Monteiro


A arquitetura e construções se modificam com o passar do tempo, desta forma serão apresentadas as variações estéticas e estudar o processo evolutivo da arquitetura moderna, buscando sua relação com a cultura e as técnicas existentes em diferentes épocas da civilização entre os séculos XVIII, XIX e XX.
A arquitetura no tempo citado adapta-se e altera seu estilo, estrutura e lugar. Acompanhando o ritmo acelerado do homem daquela época, ela promove o deslocamento sem alterar o conforto de uma construção de padrões normais, ou seja, uma construção fixa.
As características mais enfáticas na arquitetura moderna foi trazida pela revolução industrial e o acelerado crescimento das cidades, colocando o modo como este tipo de construção se associou com a tecnologia e a sociedade, fazendo-se com que se perceba que as tecnologias encontradas na arquitetura presente da época, como a modularidade de peças e a forma estrutural, transferem-se para os edifícios “fixos”, contribuindo para a evolução da arquitetura em geral.
O período arquitetônico que se inicia no fim do século XVIII e seguiu com influência até o início do século XX. É baseado na utilização do ferro na construção, como exemplo com a construção da ponte Iron Bridge em 1779, totalmente em ferro fundido, com extensão de 30,6 m e 13,7 m de altura (MACHADO, 2018).

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A ARQUITETURA

No fim século XVIII, durante o período denominado Primeira Revolução Industrial, o ferro surgiu como um material em condições de competir com os materiais de construção utilizados até então, tanto quanto a preço como outras qualidades, em grande parte pelo avanço na tecnologia de fundição e a existência de abundância nas matérias (BRAGA apud CONFEA, 2010).

Antes da Revolução Industrial, a arte de construir as máquinas estava associada mais estritamente à arte de edificar; agora que o progresso técnico transformou as construções mecânicas de madeira tão radical, estas caem cada vez mais nas mãos dos especialistas, e a palavra “construções” sem adjetivo designa, em essência, as atividades ainda ligadas aos sistemas tradicionais e habitualmente associadas ao conceito de “arquitetura”. No momento em que alguma de tais atividades desenvolve-se por sua conta de modo considerável, ela se destaca das outras e transforma-se em uma especialização independente; assim, por exemplo, até 1830-40, as vias férreas fazem parte dos tratados sobre construções, e após essa data desaparecem e dão lugar a uma literatura independente. De acordo com BENEVOLO, (2012, p.35).

A proposta é de mecanizar a produção em vários aspectos, por consequência, a fabricação de produtos manufaturados e o crescimento populacional no meio urbano aumentam de forma significativa, este último em decorrência de processos migratórios de famílias oriundas do campo.
Na história, as primeiras construções da era industrial foram feitas por engenheiros, pois levaram vários anos para que os arquitetos aceitassem a ideia de que estivessem projetando algumas das estruturas mais belas e baratas do mundo. Eles persistiam ainda nos estilos recorrentes da época e que perdurariam até a segunda guerra mundial.
A revolução acaba por modificar as técnicas de construção, a industrialização transformou os padrões de vida e levou à proliferação de novos edifícios: estações de trem, casas suburbanas, arranha-céus, para os quais não havia precedentes.
Foi com a revolução industrial que ocorreu o aparecimento de um novo profissional, o planejador urbano, pois as cidades estavam em um crescimento acelerado e assim os bairros pobres cresciam sem precedência. O intuito deste profissional é de planejar uma cidade que melhor funcionaria com o seu desenvolvimento industrial, porém também oferecendo condições de bem estar e de uma moradia saudável a seus habitantes.
A ideia de uma construção mais industrializada das casas não pode se realizar sem que cada projeto utilize os mesmos elementos construtivos, tornando a fabricação em série mais rentável e menos custosa para o uso. No entanto, isso se apresentou como um problema, pois é justamente a variedade entre os elementos que permitem satisfazer o desejo público: dar à casa um aspecto pessoal.
Os novos materiais que eram produzidos pelas indústrias, como o ferro, o vidro, o cimento, e o alumínio, foram os principais contribuintes para o nascimento de uma arquitetura moderna, pois com eles se foi permitido à criação de formas arquitetônicas inteiramente novas, que antes só se podiam imaginar.
O uso do ferro, a priori, se resumia a elementos complementar nas construções, como: correntes, tirantes, anéis ou armaduras. Contudo, o crescimento da oferta de material, fez com que passasse, inclusive a ser substituto dos pilares de madeira (ROCHA, s/a).

Com o ferro, um material de construção artificial aparecia pela primeira vez na história da arquitetura. Ele passou por uma evolução cujo ritmo se acelerou no decorrer do século. Recebeu seu impulso definitivo quando ficou claro que a locomotiva, que estivera sendo experimentada desde o fim da década de 1820, só podia ser utilizada em trilhos de ferro. O trilho era a primeira unidade de construção, o percursor da longarina. O ferro era evitado nas moradias, mas usado em galerias, salões de exposição, estações ferroviárias e edifícios com finalidades transitórias. Simultaneamente, as áreas arquitetônicas em que o vidro era empregado ampliavam-se. Mas as condições sociais para sua maior utilização com material de construção só surgiram cem anos depois. De acordo com BENJAMIN, citado por FRAMPTON (2008, p.25).

O arquiteto Abraham T. F. Pritchard constrói a primeira ponte em ferro fundido, com 30,6 metros de vão em Coalbrookdale, na Inglaterra (MACHADO, 2018). Por sua vez, Thomas Pope, amplia a literatura sobre o assunto com seu Tratado de Arquitetura de Pontes, envolvendo construções suspensas em ferro (ROCHA, s/a).
Na metade do século XIX, há ganho de produtividade e padronização de mercados, galerias entre outros equipamentos urbanos, com o uso das colunas de ferro fundidas e trilhos de ferro forjado em I, juntamente com o de vidro de forma modular (ROCHA, s/a).
“A natureza pré-fabricada dos sistemas de ferro fundido garantia a rapidez na montagem, a confecção de kits de edificações nômades que começaram a ser até mesmo exportadas” (ROCHA).
As possibilidades das aplicações do ferro se deram pelo desenvolvimento extraordinário da indústria siderúrgica inglesa que, juntamente com os franceses eram detentores.

“[...] de grandes reservas de minérios de ferro e de florestas, que, em ritmo acelerado, eram transformadas em carvão vegetal, a produção siderúrgica era bastante organizada e [a priori] baseava-se, sobretudo, na produção do ferro forjado” (MACHADO, 2018, p. 46).

Assim como o ferro, o vidro é um elemento usado desde os tempos passados, mas no período de progresso da indústria esse elemento ganha novos conceitos e aplicações.

A indústria do vidro faz grandes progressos técnicos na segunda metade do século XVIII e, em 1806, é capaz de produzir lâminas de 2,50x170m. Na Inglaterra, entretanto – que é o maior produtor -, as exigências fiscais durante as Guerras Napoleônicas opõem graves dificuldades as vidrarias e é somente depois do tratado que a produção pode retomar seu desenvolvimento (BENEVOLO, 2012, p.56).

O vidro passa a ser cada vez mais usado para fechar espaços, agora passa a ser de uso universal e começa a experimentar novas aplicações, como grandes claraboias de ferro e vidro empregadas em grandes edifícios públicos. Outra aplicação para o vidro na época, foi na construção de grandes estufas, os grandes telhados de vidro das primeiras estações ferroviárias e os novos estabelecimentos comerciais com grandes vitrines fizeram com que os arquitetos projetassem paredes inteiras de vidros.
A articulação de ferro e vidro posteriormente foi combinada com outro material, o concreto armado. O mesmo possuía vantagens, em sendo um material plástico, sua produção poderia ser parcialmente automatizado por máquinas em empresas especializadas, sendo então disposto em moldes de acordo com a necessidade. Apresentava as qualidades de ser mais resistente ao fogo, pequena variação de volume nas mudanças térmicas, reduzida demanda de manutenção e ainda é bom isolante térmico, contudo um grande problema se concentra no transporte devido seu peso e a ineficiência quanto ao isolamento acústico.
O industrial François Coignet deu ainda mais uma vantagem ao concreto, em 1852 desenvolveu as ideias do concreto armado, ao reforçar o mesmo com uma tela de metal, porém seu intuito não foi dar força ao concreto, mas sim promover que paredes de construções monolíticas fossem derrubadas. (VIERA FILHO, 2007)
Em 1877, Thaddeus Hyatt apresentou um relatório em que apresentava resultados de experimentos com concreto armado, que balizou o uso do material, reduzindo custos e evitando acidentes por fazer uso de técnicas de tentativa e erro, muito comuns a época. (VIERA FILHO, 2007)
No século XIX, as estações ferroviárias tiveram um papel importante na história, foram a responsáveis pela dinamização das cidades, ou até pela criação de centros urbanos se tornando um local de referência importante.

Com o desenvolvimento de meios de comunicação cada vez mais abstratos, a continuidade de uma comunicação arraigada é substituída por novos sistemas que continuam a se aperfeiçoar ao longo do século XIX, permitindo à população maior mobilidade e proporcionando uma informação que é mais precisamente sincronizada com o ritmo acelerado da história. A ferrovia, a imprensa diária e o telégrafo suplantarão aos poucos o espaço em seu papel informativo anterior. Segundo CHOAY, citado por FRAMPTON (2008, p.13).

Segundo Albernaz (2015), as dimensões das estações eram determinadas pela importância econômica que apresentavam. E suas principais estruturas eram:
·         Plataforma para embarque e desembarque de passageiros e mercadorias.
·         Cobertura para os passageiros e mercadorias.
·         Sala de administração, sala de venda de bilhetes etc.
·         Sala de espera dos passageiros.
·         Armazém de cargas e mercadorias.

Estas estações podiam se dividir em três grupos: as estações de passageiros ou intermediários, as estações terminais e as estações de transferência ou de entroncamento. Assim elas se diferenciam pelos serviços ofertados, e dando a cada uma sua importância (ALBERNAZ, 2015).
Com a chegada das ferrovias, teve-se uma crescente velocidade no que podemos chamar de transporte de ideias, desenhos e materiais produzidos pelos arquitetos e engenheiros para outros países.
Em decorrência disso, o final do século XIX foi marcado por um ecletismo artístico e que por consequência surge na Europa uma nova visão de arte que é incorporada pela arquitetura, o movimento denominado “Art Nouveaux” (ou Arte Nova), a partir das pesquisas dos arquitetos Hector Guimard e Jules Lavirotte. Porém é com a construção da série de casas por Victor Horta em Bruxelas, a partir de 1893 que, de fato, se dá o ponto de partida do movimento. O eixo de principal desenvolvimento foi de Paris a Viena e Berlim (HISOUR e COHEN, 2013).
A partir do número 1 da revista L’Art Moderne, de 1881 é possível ter uma noção da expressividade do Art Nouveaux:

O artista não se contenta em construir na esfera do ideal, ele se ocupa com tudo aquilo que nos interessa e nos toca. Nossos monumentos, nossas casas, nossos móveis, nossas roupas, os mais corriqueiros objetos do uso diário são revistos sem cessar, transformados pela Arte, que assim se combina com todas as coisas e refaz de forma incessante toda a nossa vida para torna-la mais elegante, mais digna, mais alegre e mais social (COHEN, 2013, p. 34).

As inspirações de Horta provem do mundo vegetal e suas criações incorporam a luminosidade externa, nesse sentido, sua obra-prima é a Maison du Peuple (Bruxelas). Em Viena o destaque do Art Nouveaux é dado a Otto Wagner, a partir de seus primeiros prédios na capital austríaca, contudo Wagner exerceu forte influência sobre seus alunos e ao publicarem seus trabalhos fez com que reverberasse em outros lugares (SALVATORI, 2016).
Em Berlim, a voz do Art Nouveaux é emitida por Van de Velde que foi convidado para criar novas escolas de arte em Weimar, no entanto, além das edificações também instituiu um currículo baseado na linha moderna (SALVATORI, 2016).
Apesar do movimento artístico ter sido incorporado a arquitetura, é o uso do ferro e aço que o tornam tão expressivo nas obras, decorrente de seus métodos construtivos que trouxeram agilidade e beleza, com materiais que foram considerados inadequados em um primeiro momento e posteriormente foram postos em destaque pela sociedade de forma que a revolução industrial também promoveu uma mudança no pensar arquitetônico.

Referências
ALBERNAZ, Pollyanna Amaral. Reabilitação da Estação Ferroviária Campos Carga do Município de Campos dos Goytacazes, RJ. 2015. Trabalho Final de Graduação (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo). Instituto federal Fluminense. Campos dos Goytacazes, RJ. 130 f.

BENEVOLO, Leonardo. O movimento para a reforma das artes aplicadas.  História da arquitetura moderna. 1976. São Paulo: Perspectiva.

COHEN, Jean-Louis. O futuro da arquitetura desde 1889: uma história mundial. 2013. São Paulo: Cosac Naify.
CONFEA, Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Trajetória e estado da arte da formação em engenharia, arquitetura e agronomia. 2010. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em: http://www.ufjf.br/observatorioengenharia/files/2012/01/vol2.pdf.Acesso em: 12/08/2019.
FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. 1997. São Paulo: Martins Fontes.

HISOUR. Arte Nova. Disponível em: https://www.hisour.com/pt/art-nouveau-27662/. Acesso em 30/07/2019.

MACHADO, Elias José de Almeida. O Emprego do Ferro na Arquitetura da Cidade de Salvador entre os Anos de 1808 e 1939: estudo e contribuições para intervenções de restauro. 2018. Dissertação (Mestrado em Conservação e Restauro). Universidade Federal da Bahia. Salvador. 278 f.

ROCHA, Bruno Massara. Arquitetura e Revolução Industrial. Disponível em: http://www.territorios.org/teoria/H_C_engenharia.html. Acesso em 20/07/2019.

SALVATORI, Elena et al. Arquitetura Ocidental: séculos XIX e XX. Disponível em: http://www.ufrgs.br/historiadaarquitetura/. Acesso em 20/07/2019.

VIERA FILHO, José Orlando. Avaliaçao da resistência á compressão do concreto através de testemunhos extraídos: contribuição á estimativa do coeficiente de correção devido aos efeitos do broqueamento. SP. 2007. Tese (Doutor em Engenharia Civil). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, SP. 217 f.

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