A EVOLUÇÃO DO ESTILO ARQUITETÔNICO NAS RESIDENCIAS EM CUIABÁ: HISTÓRIAS SUBSTITUÍDAS COM A INSERÇÃO DE NOVOS ESTILOS ARQUITETÔNICOS
Autora:
Hellen Karoline Brito Fernandes
Ilustração:
Victor Mateus Beatto
Revisora:
Hanny Géssylla Nogueira Alves
Por volta
de 1720, iniciam-se expedições em busca de ouro na região centro-oeste. Cuiabá,
assim como Ouro Preto - MG, surgiu com o objetivo de abrigar as pessoas que
foram extrair ouro na região. Inicialmente,
era apenas uma vila que desenvolveu-se entre o córrego da prainha e o morro da
luz, a qual a exploração de ouro não foi tão intensa, durando cerca de 10 anos
– ao contrário de Ouro Preto - MG, que se consolidou por mais de séculos
(RIBEIRO, 2000).
As
edificações surgiram do lado direito do córrego da prainha e a extração do ouro
acontecia do lado esquerdo. Inicialmente, havia construções simples e poucas de
cunho oficial; uma cadeia, a residência do governador e apenas uma igreja, que
ficou conhecida como Senhor Bom Jesus de Cuiabá (figuras 1 e 2). Conforme ocorria a intensificação da extração do
ouro, mais pessoas se deslocavam para a região em busca de novas oportunidades,
por isso, mais residências e igrejas foram surgindo ao longo do córrego
(RIBEIRO, 2000).
Figura 1: Ilustração da
igreja do Senhor Bom Jesus – Cuiabá MT
Fonte: BEATTO, 2019
Figura 2: Ilustração da
igreja do Senhor Bom Jesus – Cuiabá MT
Fonte: BEATTO, 2019
Posteriormente,
em 1723, a igreja do Senhor Bom Jesus torna-se matriz, e o governo, passa a
desenvolver-se ao longo do quadrilátero do largo da matriz. Surge o pelourinho,
a câmara, o senado etc. Em 1727, através de um decreto, Cuiabá deixa se ser um
aglomerado e torna-se uma vila real. A partir de então, devido a consolidação
do governo, impostos começaram a ser cobrados e regras estabelecidas – as casas
deveriam ser construídas uma ao lado da outra, para que não houvesse
desalinhamento (RIBEIRO, 2000).
Após
o fim da guerra do Paraguai, abre-se a navegação pelo rio Paraguai e, com isso,
Cuiabá passa a importar e exportar produtos. Além disso, mão de obra
especializada começa a chegar na região. As casas, até então simples, feitas de
madeira, barro e taipa socada a pilão, começam a ser construídas com materiais
mais sofisticados. Nessa época, já havia cerca de cinco edifícios religiosos,
construções civis e políticas, além de cinco ruas paralelas com calçamento,
jardins públicos com chafarizes e cloretos. Essa intensificação durou até
meados dos anos 1870 e posteriormente, a cidade ficou parada, tornando-se
destaque novamente apenas em 1930, com a implantação do estado novo (RIBEIRO,
2000).
Pelo fato da
exploração em Cuiabá ter durado cerca de 10 anos, o estilo barroco não é tão
presente na região – este estava presente apenas na Matriz do Senhor Bom Jesus,
que foi demolida após a intensificação do modernismo na região – e, por isso, Cuiabá
não tem um perfil arquitetônico definido, assim como outras regiões em que a
exploração do ouro foi mais intensa. É possível notar uma padronização nas
edificações apenas no quadrilátero formado no centro histórico de Cuiabá – além
desse, nota-se edifícios ecléticos (RIBEIRO, 2000).
As residências mais simples (figura
3), construídas neste período, eram baixas, com planta baixa bem definida,
seguindo as normas europeias. Sofreram poucas modificações ao longo dos anos,
sua porta principal era voltada diretamente a rua, e as paredes, eram de terra batida
assentada sobre pedra canga. As esquadrias eram de madeira sem detalhes em
ferro (RIBEIRO, 2000).
Figura 3: Ilustração de uma
residência simples – Cuiabá - MT
Fonte: BEATTO, 2019
As mais ricas (figuras 4 e 5),
tinham átrio na entrada, uma sala grande que dava acesso aos quartos e um
corredor extenso, que dava acesso a área de serviço, localizada no fundo da
residência. Havia, de frente para a área de serviço, um quintal com várias
plantas frutíferas. O pé direito da casa era alto. Havia também, na parte
externa, alguns degraus que davam acesso a residência. A porta de entrada
geralmente tinha uma portinhola para ver quem chegasse e era de madeira maciça
assim como as janelas. Essas, eram pintadas com cores fortes: azul, marrom, vermelho e verde (RIBEIRO, 2000).
Figura 4: Exemplo de residência
suntuosa – Cuiabá - MT
Fonte: BEATTO, 2019
Figura 5: Detalhe da
esquadria – Cuiabá - MT
Fonte: BEATTO, 2019
Já no final do século 18 até meados de 1920 (figuras 6, 7 e 8), novas construções começaram a surgir, e as
existentes – as casas mais ricas – começaram a ser modificadas. Os casarões
começaram a sofrer influência das novas tecnologias que chegavam, além da mão
de obra especializada que já havia na região. As janelas, até então de madeira
maciça, começaram a ser substituídas por venezianas envidraçadas, janelas do
tipo guilhotina. Além disso, a madeira acabou sendo substituída pelo ferro. Surgem
também as casas assobradadas com platibanda feitas de balaústres, acabamento em
argamassa, etc. No pavimento superior, haviam janelas de abrir, sacadas e
guarda-corpos feitos de ferro. Em algumas residências, haviam beirais, indicando riqueza, além do ano
do início e término da construção. Os telhados eram feitos com telha de barro (RIBEIRO,
2000).
Figura 6: Vista frontal -
Residência finalizada em 1916 – Cuiabá - MT
Fonte: BEATTO, 2019
Figura 7: Perspectiva -
Residência finalizada em 1916 – Cuiabá - MT
Fonte: BEATTO, 2019
Figura 8: Detalhe das
esquadrias – Cuiabá - MT
Fonte: BEATTO, 2019
Após a implantação
do estado novo e a chegada de vários especialistas na cidade, essa começou a ser
modificada. O passado começou a ser negado e a busca pelo progresso, iniciada.
Já é possível notar a presença do estilo modernista nas edificações que eram
executadas – o edifício do estado novo, por exemplo, já possuía características
do movimento. Para a inserção do novo, algumas construções foram demolidas,
como a igreja matriz do Senhor Bom Jesus. A cidade, começa a perder a
identidade adquirida no ciclo do ouro, já que agora, é notório a presença de
vários estilos trazidos pelos emigrantes. Ou seja, muita história foi apagada
na busca pelo progresso, restando apenas as histórias passadas de pai para
filho e as edificações existente no quadrilátero do centro de Cuiabá (RIBEIRO,
2000).
Referências:
ARAUJO,
Bernadete Durães; RIBEIRO, Onofre. Cuiabá:
uma janela para a história. São Paulo, 2000.
Comentários
Postar um comentário