A influência do Açúcar na arquitetura Brasileira e a formação dos engenhos


Autora: Hellen Karoline Brito Fernandes
Ilustrador: Victor Mateus Beatto
Revisora: Hanny Géssylla Nogueira Alves



Durante os primeiros anos de ocupação, os portugueses não encontraram ouro e nem prata, por isso, decidiram investir na plantação de açúcar, já que na Europa, na época, era um forte meio de se obter riquezas. Para que a produção fosse um sucesso, o rei D. João III, decidiu criar capitanias com a intenção de colonizar o Brasil. Todavia, essa colonização foi um fracasso, e apenas a capitania, situada no Nordeste do Brasil, conseguiu se desenvolver (RAMOS, 2010). A região, tornou-se um grande produtor de açúcar, devido ao solo e a sua localização geográfica – era mais próxima à Europa, isso facilitaria a relação com o mercado consumidor (Bicca, Bicca and Telles, 2008).
Devido ao fato do açúcar ser um dos melhores meios de se obter dinheiro na época, é possível concluir que a maioria das edificações, que surgiram até o século XIX, foram construídas através dos lucros obtidos na venda do açúcar, incluindo os engenhos e usinas. Na cidade também houve ganhos, já que as residências dos senhores e até os edifícios religiosos se beneficiaram com o sucesso da venda do açúcar para os comércios exteriores. Não se tem muitos registros sobre este período, mas de certa forma, as edificações construídas durante o período brasil-colônia, podem ter sofrido influência dos holandeses, já que os mesmos invadiram o Brasil, através da Bahia, durante o século XVII, e ficaram por lá durante um tempo, e de outros povos, que foram ao brasil durante o período citado a cima (Bicca, Bicca and Telles, 2008).
A produção do açúcar acontecia exclusivamente no campo, nos engenhos – alguns eram autossustentáveis, ou seja, não precisavam ter contato com a cidade, tal qual situava-se em grande parte próximas ao litoral, baías e rios, tinham a função de abrigar os senhores dos engenhos e de armazenar o açúcar que era produzido, além de manter contato com o comercio exterior (Bicca, Bicca and Telles, 2008).
Os engenhos, eram construções onde desenvolviam-se atividades relacionadas a cana de açúcar, desde o plantio a colheita, até a venda para o comercio exterior. Todo o processo, era realizado através de energia: engenho de bois, engenho de água, etc., cada fonte de energia era utilizada conforme a etapa a ser desenvolvida. No Brasil, existiram poucos engenhos, já que o custo de instalação desses nas grandes fazendas, era elevado (GOMES, 2008).
Os engenhos eram muito complexos devido a quantidade de pessoas que viviam próximas ao local, para trabalhar. Além do engenho, havia a moradia dos administradores – que ficou conhecida como Casa-grande, a partir de XIX; as fabricas – ou moitas -; a senzala – moradia dos escravos –; a capela, olarias, oficinas etc. (GOMES, 2008).
Todas as construções do período, se comportavam de uma maneira diferente em relação ao estilo arquitetônico: construções mais distantes, tinham de se adaptar aos recursos e climas locais, por isso não seguiam à risca os sistemas portugueses. Algumas, próximas ao litoral, acabaram sofrendo influência de povos que invadiram o brasil: como é o caso dos engenhos de Pernambuco, que sofreram influência dos holandeses (GOMES, 2008).
A seguir, serão abordados, os edifícios que compunham o engenheiro, sendo esses: a fábrica, a senzala, a capela e a casa-grande, entre outros.

A fábrica

As fabricas, eram modificadas conforme o meio de energia empregada e além disso, algumas, a partir do século XIX, começaram a empregar novas tecnologias, passando a depender de mão de obra especializada ao invés de dependerem apenas dos escravos. Esse era o primeiro edifício a ser instalado nos engenhos. É notório que não havia preocupação com a estética, já que o objetivo era apenas produzir o açúcar (Bicca, Bicca and Telles, 2008).

MATERIAIS
SISTEMA CONSTRUTIVO
Alvenaria de tijolos
Cobertura em madeira
Madeira
Colunas de alvenaria e tijolos
Adobe


          Projeto arquitetônico:  planta em forma retangular e linear. A partir do século XIX, passam a surgir plantas em forma de L e T, ou de cruz, modelos trazidos por estrangeiros. As tarefas complementares eram executadas em baixo da extensão do telhado principal. Esse, era descontinuo, para permitir a passagem do calor, e podiam ser de 4 ou mais águas. Mesmo após a inserção de exaustores, os telhados continuaram a ser feitos de forma descontinua, sendo uma característica bem evidente nas moitas dos engenhos (Bicca, Bicca and Telles, 2008).

Figura 1. A fábrica. Fazenda Jacobina – (Cáceres – MT)
Autor: BEATTO, 2019

           A senzala

Era a casa dos escravos, alguns a consideram o edifício como um todo e outros, apenas um cômodo da construção – os cubículos. Eram padronizadas, já que o estilo de vida dos escravos era o mesmo até a abolição da escravatura e geralmente eram térreas, feitas com materiais pouco resistentes a umidade e calor, tanto que não há muitas senzalas existentes atualmente no brasil. Em alguns casos, é possível que os escravos tenham morado na parte térrea dos casarões – espécie de deposito – ou construído casebre – cubículos conhecidos atualmente como os primeiros mocambos – ao invés de morarem em senzalas. Como visto anteriormente, as senzalas eram genéricas, ou seja, possuíam o mesmo padrão arquitetônico em diferentes regiões (Bicca, Bicca and Telles, 2008).

MATERIAIS
SISTEMA CONSTRUTIVO
Taipa de pau-a-pique
Paredes em taipa de pau-a-pique
Barro
Cobertura de palha ou barro
Palha


Projeto arquitetônico: casa térrea, formada por cubículos de no máximo 12m². Não havia a existência de janelas, apenas de uma porta.
Figura 2. A Senzala. Fazenda Jacobina (Cáceres – MT)
Autor: BEATTO, 2019

           A capela

Eram frequentadas pelos senhores do engenheiro, tais quais deviam ser enterrados na capela, após sua morte. Além disso, o padre, fazia discursos aos escravos, tentando convence-los do seu destino. As capelas recebiam muito investimento, dos senhores do engenheiro, devido ao seu valor simbólico. São os únicos edifícios que ainda hoje é possível observar, já que os materiais que a constituem, são de ótima qualidade, se comparado aos que eram empregados nas senzalas (Bicca, Bicca and Telles, 2008).

MATERIAIS
SISTEMA CONSTRUTIVO
Alvenaria
Paredes em taipa de pau-a-pique
Barro
Madeira e telha de barro
Argamassa e cal


Projeto arquitetônico: era simples, algumas possuíam dois pavimentos, e as do meio rural eram semelhantes à da cidade.
Capelas urbanas, dois pavimentos: no pavimento térreo havia a capela mor, a sacristia. Já no superior, o coro. Algumas possuíam as tribunas, local reservado a família do senhor do engenho.
          Capelas rurais, de um pavimento: eram simples e possuíam o altar decorado com púlpitos, tribunas, imagens de santos feitos em madeira entalhada. Havia apenas uma entrada e algumas janelas laterais, além de um sinaleiro na parte externa da capela. 


Figura 3. A capela. Fazenda Jacobina (Cáceres – MT)
Autor: BEATTO, 2019



           Casa-Grande

Não eram genéricas, como as senzalas, eram alteradas conforme o tempo e espaço – o projeto arquitetônico empregado na Casa-grande, construída na Bahia, não era a mesma do Rio de Janeiro, etc., passou a ser conhecida como casa-grande a partir do século XIX. É notório observar que não pensaram apenas na função, assim como é observado nas fabricas, já que há elementos estéticos. Era a casa dos senhores de engenho, tais quais eram os responsáveis pela administração do engenho (Bicca, Bicca and Telles, 2008).

Figura 4. A casa grande. Fazenda Jacobina (Cáceres – MT)

Autor: BEATTO, 2019




REFERÊNCIAS:

Bicca, Briane Elisabeth Panitz., Bicca, Paulo. and Telles, Augusto Carlos da Silva. Arquitetura na Formação do Brasil. 2008. Brasília, DF, Brasil: Unesco, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Representação da UNESCO no Brasil.

RAMOS, Jefferson Evandro Machado. Produção de açúcar no Brasil Colonial. Disponível em:<https://www.historiadobrasil.net/brasil_colonial/producao_acucar.htm>. Acesso: 07. Abril, 2019


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