ARQUITETURA VILHENENSE: INFLUÊNCIAS E EDIFICAÇÕES SIMBÓLICAS


Autor: Tainá Sousa Oliveira
Revisor: Joicy Wevilin Vakiuti de Souza

Nos aspectos que contribuintes para a edificação das cidades, a arquitetura é uma das principais ferramentas. Neste contexto, busca-se analisar o processo de criação e crescimento da cidade de Vilhena/RO, através de três das edificações mais simbólicas na cidade, tendo em vista a influência social das mesmas.

1.    Contexto

Localizada nos limites do sul do estado de Rondônia, à 700 quilômetros da capital Porto Velho e 730 quilômetros de Cuiabá/MT, especificamente na chapada dos Parecis, a cidade de Vilhena é denominada “portal da Amazônia”. (BRASIL, 2003).
A instalação do município se deu em 23 de Novembro de 1977, desmembrando a área das terras portovelhenses através do decreto Lei nº 6.448. Vilhena possui área de aproximadamente 13.500 km² e área urbana de 76 km². (VILHENA; SIQUEIRA, 2001).

1.1  Bandeirantes e a Comissão Rondon

Segundo Pedro Brasil (2003, p. 9), existe relatos da passagem de bandeirantes portugueses pelas terras que compreendem o município de Vilhena, desde meados do século XVI, em busca de indígenas para trabalho escravo, porém não há sinais de ocupação e povoamento da região, senão por indígenas locais.
Somente no início do século XX, com a influência do ciclo da borracha e construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM,1907-1912) , a região é incluída no mapeamento das linhas telegráficas instaladas pela comissão chefiada pelo Tenente Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon. A presidência da república, representada por Afonso Pena, tinha por objetivo ligar a até então capital do Brasil, Rio de Janeiro, ao norte do país. Foram construídas 28 estações telegráficas de Cuiabá à Porto Velho, o que resultou um total de 1500 km de linhas, visto que já havia estações até a capital cuiabana. (BRASIL, 2003)
A primeira estação telegráfica nos limites do atual estado de Rondônia e também primeira edificação que marca a passagem do homem civilizado pela chapada dos Parecis trata-se da estação telegráfica de Vilhena, assim nomeada por Rondon em homenagem ao engenheiro telegráfico Álvaro Coutinho de melo Vilhena. (BRASIL, 2003).

2.    A Estação telegráfica de Vilhena

Inaugurada por Rondon em 12 de Outubro de 1911, na região que compreende a chapada dos Parecis, segundo Coronel Rondon no Relatório de exploração do rio Paratininga de 1916, o posto telegráfico de Vilhena foi construído pela equipe de engenharia da comissão Rondon.
Ainda segundo o relatório, os possíveis materiais da construção original são pedras de canga na fundação, que elevam as paredes em blocos de adobe protegendo-as da umidade. O alpendre possui pilares e assoalho em madeira, e a cobertura de telhas cerâmicas. Todos os materiais possivelmente adquiridos nas matas locais e peças trabalhadas in loco, características de uma construção bandeirista simples.

Figura 1 – Posto telegráfico de Vilhena em 1973 (posterior à restauração).
Fonte: Acervo Jessika Labajos.


Após a inauguração Rondon registra como primeiro administrador um indígena Nambiquara encarregado pela gerencia do posto telegráfico este homem é morto pelos índios rivais, os Cinta-Larga. No início de 1943 o Índio aculturado, Marciano Zonoecê, chega para zelar e operar o posto telegráfico onde reside com sua família, sendo assim registrada a família Zonoecê como a primeira a povoar o que futuramente seria a cidade de Vilhena.  (BRASIL, 2003)
Com a queda da utilização do sistema de telégrafos dando espaço à meios de comunicação mais avançados, o posto telegráfico permanece abandonado até a década de 70. Somente em 1982 é realizada uma tentativa de restauração do local, com o intuito de transformá-lo no Museu Municipal Marciano Zonoecê, que funcionou como importante ponto turístico na cidade, no entanto a administração municipal fecha as visitações em 1996. Atualmente o local encontra-se isolado e abandonado, o terreno pertence ao exército brasileiro, o que dificulta ações de restauro. (LABAJOS, 2011).
Na figura 2, a maquete tridimensional virtual apresenta a obra após a tentativa de restauração executada em 1982, sendo visíveis as mudanças de esquadrias, cobertura e pintura.

Figura 2 – Maquete virtual do Posto telegráfico de Vilhena após restauração em 1982.
Fonte: Acervo do Autor.


Figura 3 – Posto telegráfico de Vilhena – fachada leste.
Fonte: Acervo do Autor

3.    Capela Nossa senhora Auxiliadora

O crescimento decorrente do povoamento do até então distrito Vilhena chama a atenção de missionários católicos, entre eles Padre Ângelo Spadari que realiza a primeira Missa do povoado, dedicada a N. Sra. do Loreto. Spadari dedicava-se aos moradores locais com notável empenho, como catequista e por vezes atuava como enfermeiro pelas precárias condições do povoado. (BRASIL, 2003).

Segundo Pedro Brasil (2003, p. 133), em 1967, Padre Ângelo compra os primeiros dez sacos de cimento para a possível construção da capela de Nossa Senhora Auxiliadora, para as comemorações de páscoa no mesmo ano. A obra tratava-se de uma responsabilidade coletiva dos moradores que fizeram ações para arrecadação de fundos, entre eles Donato Ferreira de Queiroz, comerciante local, assumiu a construção da fundação, o terreno foi nivelado com o maquinário do 5º Batalhão de Engenharia e Construção (5º BEC/DNER).

No projeto inicial, a planta da igreja deveria medir 8x16m, entretanto a pedido do bispo, a planta foi ampliada 4 metros, sendo de 8mx20m. Os tijolos da vedação vieram das cidades de Porto Velho, Ji-Paraná e Pimenta Bueno, vale ressaltar que havia muitas dificuldades para a aquisição de materiais, desta forma a igreja só foi concluída três anos depois, em 1970 sendo a primeira igreja de Vilhena.

Figura 4 – Capela N. Sra. Auxiliadora 
Fonte: Acervo do Autor.

O projeto possui nave única e uma torre sineira à direita.  A fachada singela da capela possui um óculo central acima da entrada e revestimento na cor branca. A pedido do padre Ângelo, a torre da igreja foi adornada com um relógio do sol, que se tornou um marco na capela, logo abaixo possui a frase “O tempo perdido não volta atrás”.

4.    Palácio dos Parecis (Unir)

 Projetado pelo arquiteto rondoniense Luiz Leite de Oliveira para ser a primeira prefeitura da cidade de Vilhena, o antigo Palácio dos Parecis, assim originalmente denominado, foi concebido em 1979, sendo a primeira obra do arquiteto no estado depois de formado.
Segundo o arquiteto, o conceito adotado buscava a valorização da cultura local, de forma a englobar as matas do entorno. A estrutura e pilares destacados fazem alusão às palafitas, construções consideravelmente elevadas do nível do terreno, comuns às margens de rios. O arquiteto alega ainda a referência á inicial do nome da cidade “V”, onde é disfarçada nos ângulos da cobertura.

Figura 3– Unir Campus Vilhena, 2019.
Fonte: Acervo do Autor.

A construção ergueu-se em alvenaria de dois pavimentos, com revestimentos pontuais em madeira em seu projeto original, o que criou certa intimidade com a mata ao redor. De mesmo material adotam-se janelas e muxarabis com temáticas de losangos paralelos. Reformas foram iniciadas em 2016, modificam-se revestimentos e esquadrias em madeira, adotando em portas e janelas vidro na fachada principal.
A estrutura local antiga contava com um heliporto para pequenos pousos na locação, na fachada posterior ao prédio. Luiz leite aponta que um projeto urbanístico com proposta de convivência foi elaborado para o conjunto, entretanto não pode ser executado.  Após a construção de uma nova sede mais centralizada para a prefeitura municipal, o prédio é doado ao Estado, assumindo a Universidade Federal de Rondônia (UNIR) em meados de 1987. Os blocos acrescentados para a nova utilização contam com 13 salas de aula, biblioteca, laboratórios, anfiteatro entre outras instalações. (BRASIL, 2003).



Referências

BRASIL, Pedro. Vilhena conta sua história. Porto Velho: Dinâmica editora e distribuidora Ltda, 2003.


LABAJOS, Jessika. Casa de Rondon: Patrimônio esquecido, 2011. Disponível em: < http://rondoniaemsala.blogspot.com/2011/12/casa-de-rondon-patrimonio-esquecido.html > Acesso em: 27 maio 2019.

 

OLIVEIRA, Luiz Leite. A Amazônia, o homem e a arquitetura, 2016. Disponível em: < https://www.gentedeopiniao.com.br/amazonias/a-amazonia-o-homem-e-a-arquitetura> Acesso em: 31 maio 2019.

RONDON, Cândido Mariano da Silva. Relatório apresentado á Directoria geral dos Telegraphos e á Divisão de Engenharia do Departamento da Guerra. 2. ed.  Rio de Janeiro: Papelaria Macedo, 1919. 33 p.

 


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