PONTO DE VISTA: uma análise da Igreja da Pampulha


Autora: Francielle Pereira Fernandes Monteiro
Revisora: Karina Said

Figura 1 - Croqui da igreja da Pampulha, Belo Horizonte.
Fonte: Página do arquitrecos. Disponível em: <http://www.arquitrecos.com/2012/12/niemeyer-e-suas-igrejas-homenagem-ao.html>. Acesso em: 01 ago. 2019.

“Quando você tem um espaço grande assim, a solução natural é a curva não é a linha reta. Então eu cobri a igreja de curvas. E a arquitetura se fez diferente. Se fez mais ligada ao nosso país, mais leve, mais vazada, mais próxima das velhas igrejas de Minas Gerais” (NIEMEYER, 194-)1.

História e Características

            A igreja da Pampulha faz parte de um conjunto de edifícios projetados por Niemeyer para o entorno da Lagoa da Pampulha em Belo Horizonte. Foi um projeto de iniciativa governamental concebido durante a gestão do prefeito Juscelino Kubitscheck que tinha como objetivo a criação de “um novo bairro para Belo Horizonte, alegre e moderno”.2

          Algumas características presentes na Igreja revelam sua conexão com os princípios da arquitetura moderna, a construção da estrutura em concreto armado, a adoção do conceito de planta livre e a utilização de planos envidraçados que permitem a integração entre o interior e exterior possibilitando a entrada de luz natural nos edifícios, são alguns dos exemplos mais significativos.3
“A sua estrutura é composta por arcos que formam cada abóbada. As duas maiores são o teto da nave e do altar, enquanto que as menores, na parte de trás, servem de apoio. O uso dessa forma parabólica permite que um único elemento forme a cobertura e as paredes, sem recorrer a estruturas independentes” 4.

      Com isso dispensa o uso de alvenarias. Em contraste com o conjunto, aparecem o campanário e a marquise da entrada, como elementos independentes.4


Figura 2 - Vista externa da Igreja da Pampulha, detalhando o painel abstrato de Paulo Werneck.
Fonte: Página da associação cavaleiros da cultura. Disponível em: <http://cavaleirosdacultura.org.br/unesco-nomeia-pampulha-como-patrimonio-mundial-da-humanidade/>. Acesso em: 03 ago. 2019.

Caixa de texto: Fonte: site caras.A igreja permaneceu durante 14 anos proibida ao culto, pois aos olhos do arcebispo, a igrejinha era apenas um galpão e fugia totalmente dos padrões arquitetônicos da época, somente em 1959, a igreja foi consagrada como um templo religioso. Niemeyer utilizou azulejos e painéis para revestir grande parte da obra. Em seu interior, abriga a Via Sacra representada por 14 painéis de Cândido Portinari. Os painéis externos figurativos em azulejos de tons azul também são de Cândido Portinari, e nas laterais há painéis abstratos de autoria de Paulo Werneck. Os jardins são assinados por Roberto Burle Marx.5 A Igreja da Pampulha é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG) e pela Gerência do Patrimônio Municipal de Belo Horizonte e recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. 5



Figura 3 - Vista externa da Igreja da Pampulha, em detalhe o painel de azulejo de Cândido Portinari.
Fonte: Página do Brasil escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/biografia/oscar-niemeyer.htm>. Acesso em: 01 ago. 2019.

Análise


Figura 4 - Altar da Igreja da Pampulha.
Fonte: Página do descubra minas. Disponível em: <http://www.descubraminas.com.br/Turismo/DestinoAtrativoPagina.aspx?cod_destino=1&cod_atrativo=423&cod_pgi=1394>. Acesso em: 03 ago. 2019.

       Utilizando como inspiração as curvas das montanhas para idealizar a Igreja da Pampulha, Oscar Niemeyer as harmonizou com o contorno da lagoa como em uma moldura, resultando em uma integração surpreendente com a paisagem, não chamando mais a atenção que seu entorno.    Essa boa relação foi concebida devido a sua geometria e dimensões bem pensadas.

Figura 5 - Vista superior da Igreja da Pampulha.
Fonte: Página do projeto batente. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/burle-marx-no-paisagismo-moderno-brasileiro/>. Acesso em: 03 ago. 2019.

A implantação da Igreja da Pampulha faz refletir sobre o quanto Niemeyer se preocupava com a visão dos observadores de suas obras. Pode-se perceber que a fachada dos fundos oferece o painel de azulejo de Cândido Portinari com imagens do santo que dá nome a igreja (Francisco de Assis) para contemplação dos que estão utilizando a praça que faz fundos com a igreja. Já para os frequentadores da igreja que estão no interior da nave central, a fachada da frente é composta de esquadrias de vidro transparentes que oferecem a vista do espelho d’água transmitindo a sensação imediata de contato com a natureza.

No entanto, a composição de esquadrias não tem como função somente a observação externa de quem está dentro da nave, a mesma também foi proposta com o intuito de favorecer a iluminação natural e ressaltar as pinturas nos painéis que estão no interior da igreja, junto a isso, pode-se observar a escolha da paleta de cores que foi utilizada, tons de azul têm efeito calmante, repousante e suave, dando a sensação de paz e bem-estar. O conjunto desses itens, contrasta com o revestimento interno da nave em madeira escura, causando um equilíbrio proporcional a função religiosa da igreja, remetendo ao bem e ao mal, céu e inferno.
Assim, com o projeto da Igreja da Pampulha, Niemeyer rompeu definitivamente com os padrões de linhas retas e adentrou em um mundo desconhecido de linhas curvas que dialogam com a brasilidade e transcendem as questões meramente funcionais, levando a imagem e contornos vistos a impregnar em nossas mentes como fruto de um trabalho que exprime o sentido arquitetônico proposto.

Referências
1 NIEMEYER. “Oscar Niemeyer: obras”. Fundação Oscar Niemeyer. s/a. Disponível em: <http://www.niemeyer.org.br/mosaico-assimetrico>. Acesso em: 01 ago. 2019.
2 CAPPELLO, M. B. C; LEITE, L. A. L. D. M. “Oscar Niemeyer pelo complexo arquitetônico de Pampulha – uma análise à sua recepção na imprensa nacional e internacional”. 2006. PIBIC – FAPEMIG. UFU. Uberlândia. 27 p.
3 CARVALHO, A. F. “Valorização do conjunto arquitetônico da Pampulha: representação da identidade de Belo Horizonte”. 2016. Revista on line Vitruvius. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.190/6025>. Acesso em: 03 ago. 2019.
4 SOUZA, M. H. “Clássicos da Arquitetura: Igreja da Pampulha / Oscar Niemeyer”. 2012. ArchDaily Brasil. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/83469/classicos-da-arquitetura-igreja-da-pampulha-slash-oscar-niemeyer>. Acesso em: 03 ago. 2019.
5 BELOHORIZONTE. “Igreja São Francisco de Assis”. s/a.  Belo Horizonte surpreendente. Disponível em: <http://belohorizonte.mg.gov.br/local/representacao-religiosa/catolica/igreja-sao-francisco-de-assis>. Acesso em: 03 ago. 2019.

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