PRINCÍPIOS DO DESIGN PASSIVO NAS EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS - LIVRO: DESIGN PASSIVO: BAIXO CONSUMO ENERGÉTICO - MIRIAM GURGEL
Palavras-chaves:
Design, sustentabilidade, construções
Nome: Hellen Karoline Brito Fernandes
O
design passivo é um conceito relativamente novo, surgiu da necessidade de
tentar tornar a arquitetura mais sustentável e integrada a natureza. É possível
observar diversos conceitos existentes que a Arquitetura pode levar em
consideração, como a arquitetura bioclimática, o ecodesign, a eco arquitetura,
etc. Apesar de serem conceitos recentes, muitas construções já tem aplicado
alguns desses, proporcionando melhorias no funcionamento da edificação (GURGEL,
2012).
Dentro
do design passivo, há seis conceitos que podem ser levados em consideração na
elaboração de projetos, como: a adaptação da arquitetura ao clima, com uma
orientação correta; aberturas de portas e janelas adequadas, capazes de
proporcionar melhoria na ventilação e iluminação; utilização da massa térmica
para isolamento térmico; ventilação cruzada. Todos esses itens são meios de
tornar a construção mais sustentável, fazendo com que custos sejam reduzidos,
sem prejudicar o funcionamento da edificação (GURGEL, 2012).
É
notório que a maioria dos projetistas não conseguem utilizar todos os conceitos
do design, mas apesar disso, é possível observar ao menos um deles: por
exemplo, alguns projetistas não consideram a massa térmica, por outro lado, orientam
corretamente a edificação no terreno, etc. No período colonial, não levavam em
consideração as questões ambientais, muito menos os princípios do design
passivo, já que é um conceito novo. Apesar disso, é possível notar que há ao
menos um dos conceitos de forma implícita, tal qual era capaz de melhorar a
construção (FILHO, 2019).
No
século XVIII, as construções coloniais no Brasil eram implantadas de um modo
diferente, deviam seguir as vias já construídas. Não deixavam recuos, a
construção ocupava todo o terreno – pareciam as casas geminadas que conhecemos
atualmente. Possuíam apenas um acesso frontal, algumas aberturas e um pequeno
quintal no fundo do terreno – o método quede implantação era um grande
problema, já que dificulta a ventilação cruzada, a iluminação natural, etc. Além
disso, não respeitavam a orientação solar na hora da implantação, já que as
construções deviam seguir as avenidas existentes (FILHO, 2019).
Apesar
de tudo isso, podemos notar algo que ajudava muito as construções, que era a
massa térmica dos materiais utilizados. As paredes eram bem espessas, pois
utilizavam o adobe, tal qual impedia que o calor entrasse com facilidade dentro
das construções, tornando-a fria durante o dia e esquentando durante a noite.
Além da massa térmica, em algumas construções, utilizavam janelas de abrir,
tais quais permitiam que a ventilação e iluminação entrasse 100% dentro da
edificação – hoje em dia grande parte das aberturas é de correr, contendo
janelas moveis e fixas, tais quais permitem que apenas metade da ventilação
entre no ambiente (FILHO, 2019).
Figura 1. Método construtivo: Adobe
Fonte: Disponível em: <https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/09/06/tecnicas-construtivas-do-periodo-colonial-i/>. Acesso em 28 JUL 2020
Outro fator importante é que para passar a impressão de uma cidade bem adensada, não havia muitos jardins ou casas com jardins, muito menos levavam em consideração as taxas de ocupação, taxas de impermeabilidade como conhecemos e utilizamos hoje. É importante destacar que as construções não eram funcionais, sistemas hidráulicos eram substituídos por mão de obra escrava, ou seja, alguns moradores demoravam a utilizar novas tecnologias que iam surgindo, já que tinham escravos na residência. Isso tudo mostra que as construções não funcionavam, apenas existiam (FILHO, 2019). Nas (figuras 2 e 3), é possível observar a espessura das paredes, tais quais
Figura 2. Sobrados coloniais em MG. Fonte: Acervo pessoal do autor. |
Figura 3. Sobrados coloniais em MG.
Fonte: Acervo pessoal
do autor |
Já no final do século XIX, devido a imigração europeia, veio muita mão de obra especializada para o Brasil, além de novas tecnologias trazidas do exterior. Já é possível observar que mudanças começaram a surgir, principalmente na implantação das edificações. Essas, que antes ocupavam 100% do terreno, passaram a ter recuos laterais e frontais, inicialmente por motivos estéticos, mas depois, implantados de forma a melhorar a ventilação e iluminação nos ambientes internos. Um dos recuos laterais era maior, pois utilizavam-no para implantar jardins, além de acessos de serviço que antes não existiam. Pequenos jardins eram implantados de forma discreta na entrada da edificação, tal qual deixou de seguir o alinhamento das vias existentes – esse processo foi longo, já que tentavam manter a mesma aparência das construções anteriores, mudando apenas alguns materiais na fachada (FILHO, 2019).
Os
ambientes internos também passaram por transformações, de modo que a iluminação
e a ventilação fossem melhoradas - as alcovas, por exemplo, passaram a ter
janelas voltadas para jardins ou corredores com recuos. Além disso, devido as
novas tecnologias que chegavam, a mão de obra escrava passou a ser deixava de
lado, começavam a surgir sistemas hidráulicos nas residências e até banheiros.
Infelizmente, a maioria das casas menores ainda não tinham recuos e nem
jardins, continuando com a iluminação e ventilação prejudicadas. Apesar de
todas essas mudanças, ainda não levavam 100% em consideração a orientação
solar, já que visavam mais questões estéticas. De outro lado, a massa térmica
passou a ser deixada de lado, já que as paredes passaram a ser menos espessas e
o material passou a ser substituído (FILHO, 2019). Na (figura 4) é possível
observar que as janelas e portas são de abrir, permitindo uma melhora na ventilação do
edifício.
Figura 4. Revitalização de um edifício em Cáceres (MT). Uso atual: Cooperativa Sicoob. Fonte:.Acervo pessoal do autor. |
Quase no início no século XX, a maioria ainda pensava apenas em questões estéticas, mas timidamente alguns hábitos iam mudando, tais quais acabavam melhorando a vida dos moradores. Apesar de todas as mudanças e tecnologias que iam chegando à Arquitetura ainda continuava rígida, com os mesmos aspectos da arquitetura colonial, já que a fachada sofria apenas mudanças discretas. As mudanças mais significativas foi a relação entre o lote-construção, já que a edificação começou a se desprender dele (FILHO, 2019).
Logo,
é possível observar que o design passivo já era utilizado no período colonial,
mas de forma discreta e impensada, já que dentre os seis princípios, apenas
alguns eram utilizados. Conforme o tempo passava, a Arquitetura sofria mudanças
– é incrível pensar que apenas mudanças no modo de implantar a construção já
traz mudanças significativas para quem utiliza a construção – além de melhorar
a vida do morador, o entorno também se beneficia. Tudo isso mostra também a
importância de uma mão de obra especializada, já que por causa disso, iam
utilizando novos métodos construtivos e novos materiais. Mesmo hoje em dia, é
notório que as construções não utilizam todos os princípios do design passivo,
mas apenas alguns, já que para a construção ser ecologicamente correta,
dependerá de muitos fatores, como o custo de implantação. Essas analises são
importantes para mostrar que pequenas mudanças são capazes de transformar a
vida das pessoas (FILHO, 2019).
FILHO,
Nertor Goulart Reis. Quadro da
Arquitetura no Brasil. 1 ed. São
Paulo: Editora Perspectiva, 2019.
GURGEL,
Miriam. Design Passivo: Baixo consumo
energético. São Paulo: Editora Senac
São Paulo, 2012.
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