O SIMBOLISMO DOS NÚMEROS NA ARQUITETURA EGÍPCIA

 

Palavras-chave: Simbologia, Egito, números.

Autor: Hanny Géssylla Nogueira Alves

 

Desde o início dos tempos, os símbolos tem feito parte da vida das civilizações, ao representar e sugerir em sua forma palpável a significância para algo abstrato. Geralmente, tais significados são baseados em comum acordo, difundido através de diferentes culturas e religiões, como é o caso da representação do Cristianismo através da cruz, ou a lua crescente e estrela para o Islã (KADER, 2017).


Figura 01 – Representação simbólica da cruz utilizada no Cristianismo e lua crescente e estrela para o Islãmismo.

Fonte: Learn Religions. “Visual Glossary of Religious Symbols” (s.d). Disponível em: <https://www.learnreligions.com/alternative-religion-4684831>. Acesso em: 20 OUT 2020.

Ao avaliar a importância da simbologia para certas civilizações, nenhuma se destaca tanto quanto a do antigo Egito. Foi por meio de símbolos que os egípcios representaram e afirmaram muitas de suas ideias, crenças e atitudes a respeito da natureza da vida, da morte, do sobrenatural e da realidade (BRUNO, 2006 apud KADER 2017).

Adotados frequentemente pelo povo egípcio, os símbolos representavam aspectos da realidade ou ideias que eram difíceis de representar por meio de outros modos de expressão. Nas Grandes Pirâmides de Gizé, por exemplo, há camadas e mais camadas de simbolismo. No geral, as pirâmides simbolizam os antigos triunfos do homem, porém, para os antigos egípcios, elas simbolizavam também a própria estrutura da criação; o monte primordial onde surgiu a vida (KADER, 2017).

O mesmo acontece com os números, que podem receber significados simbólicos através das crenças, e em certas culturas representar influências até mesmo para o futuro. O hino encontrado no papiro de Leiden I350 (caracterizado por descrever os principais aspectos das criações antigas), datado do Reino Antigo em 2686-2134 a.C., já demonstrava que o simbolismo dos números havia sido praticado desde os tempos antigos, até mesmo desempenhando importante papel simbólico na arquitetura sagrada egípcia.

Como os antigos egípcios acreditavam que tudo no universo era animado por forças vitais, cada partícula existente está sempre em constante movimento e interagindo entre si. Os números então, também designavam os aspectos energéticos da natureza, assim, consequentemente, todo o universo é animado e vibrante, e cada faceta é considerada "masculina" ou "feminina" (FRANCINI, 2009).

Estes princípios eram chamados de “Neteru” (termo que se refere a deuses ou deusas), onde o significado divino dos números para os egípcios foi personificado pela deusa Seshat, chamada “A Senhora dos Construtores”, considerada patrona da arquitetura (FRANCINI, 2009).

O conceito das relações entre os números 3, 4 e 5 é tão antigo quanto o Egito e esconde uma estrutura profunda de tradições místicas que só recentemente começaram a ser reconhecidas pela pesquisa arqueológica. Com base na técnica do sistema de cordas adotada pelos egípcios para a medição de suas terras, surgiu o que chamamos hoje de “Triângulo de Pitágoras”. Esse sistema era composto por uma corda com 12 nós equidistantes que, dobrada em forma de um triângulo, apresentava 3, 4 e 5 nós respectivamente em suas laterais.

Figura 02 – Sistema de cordas adotado pelos egípcios que representa o triângulo sagrado egípcio.

Fonte: The Book Of Threes. “Living in Threes: Triangles and Triglyphs in Ancient Cultures” (s.d). Disponível em: < https://www.bookofthrees.com/living-in-threes-triangles-and-triglyphs-in-ancient-cultures/>. Acesso em: 20 OUT 2020. 

Além do sistema das cordas, o triângulo sagrado egípcio também está altamente ligado a mitologia. Plutarco em Moralia vol. V, compara o triângulo com o homem, a base como sua mulher e a hipotenusa para seu filho. Sendo assim: O menor lado (conhecido como “Ausar”) corresponde ao Pai Osiris, o maior lado (conhecido como “Auset”) corresponde a Mãe Isis, e a hipotenusa (chamado Heru) é o filho Horus (FRANCINI, 2009).

Figura 03 – Triângulo egípcio baseado na mitologia de Plutarco.

Fonte: The Book Of Threes. “Living in Threes: Triangles and Triglyphs in Ancient Cultures” (s.d). Disponível em: < https://www.bookofthrees.com/living-in-threes-triangles-and-triglyphs-in-ancient-cultures/>. Acesso em: 20 OUT 2020.

Fisicamente, esses números clássicos (3, 4 e 5) estão representados na própria estrutura das pirâmides. A Grande Pirâmide de Gizé, por exemplo, apresenta um proeminente número três na forma de suas três faces triangulares.

 Isso faz parte da numerologia complexa das pirâmides, cujos vários elementos matemáticos representam o conceito pitagórico de todos os ritmos universais sendo modelados a partir do triângulo (três), do quadrado (quatro) e do pentágono (cinco). Onde:

  • ·         O número três representa as faces triangulares;
  • ·         O número quatro representa a base quadrada para a pirâmide, e;
  • ·         Os quatro cantos da pirâmide mais o topo representam o número cinco.

Figura 04 – Grande pirâmide de Gizé.

Fonte: MORASSI, Airton. “Gize – Egito”. 02 NOV 2017. FLICKR.  Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/metalog/24716156888/in/photolist-DE5Lm1-21>. Acesso em: 20 OUT 2020.

Além de estar presente na estrutura das pirâmides egípcias, o número três também é comumente encontrado na arquitetura clássica Grega, até mesmo utilizando-se da forma triangular, sendo um de seus exemplos mais evidentes o triângulo presente no frontão do Panteão de Atenas (figura 5). Tais repetições adotadas através do tempo (e diferentes períodos arquitetônicos), acabam por destacar a importância da simbologia numérica não só para a arquitetura egípcia, mas também mundial.

Figura 05 – Representação do Panteão de Atenas.

Fonte: The Book Of Threes. “Living in Threes: Triangles and Triglyphs in Ancient Cultures” (s.d). Disponível em: < https://www.bookofthrees.com/living-in-threes-triangles-and-triglyphs-in-ancient-cultures/>. Acesso em: 20 OUT 2020.

REFERÊNCIAS

FRANCINI, Antonietta. Egyptian Numerology: the Pythagorean Triangle and Its Esoteric Meaning. Rosicrucian Digest No. 1 – 2009.

KADER, F. A. Zeinab. Reflections of Number symbolism on Egyptian sacred architecture. 2017.

Learn Religions. “Visual Glossary of Religious Symbols” (s.d). Disponível em: <https://www.learnreligions.com/alternative-religion-4684831>. Acesso em: 20 OUT 2020.

MORASSI, Airton. “Gize – Egito”. 02 NOV 2017. FLICKR.  Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/metalog/24716156888/in/photolist-DE5Lm1-21>. Acesso em: 20 OUT 2020.

The Book Of Threes. “Living in Threes: Triangles and Triglyphs in Ancient Cultures” (s.d). Disponível em: < https://www.bookofthrees.com/living-in-threes-triangles-and-triglyphs-in-ancient-cultures/>. Acesso em: 20 OUT 2020.





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