ARQUITETURA E DEMOCRACIA: a influência da arquitetura para conquista de poder
poder. política. população.
SOUZA, Luiz Eduardo Aguiar de
A arquitetura apresenta influência na política desde os tempos das polis (antigas cidades da Grécia Antiga). Nesse período houve um grande desenvolvimento da filosofia, pois a população conceituou um sentimento de liberdade e autonomia. Sendo assim, a liberdade e o meio de expressão ganhou força, dando início às primeiras democracias. Entretanto, a democracia desse período era diferente da contemporânea, Atenas foi a primeira cidade a possuir esse método político. Inicialmente, o governo era definido como a assembleia eclesiástica, e a população era definida como homens atenienses maiores de 18 anos.
A arquitetura dessas cidades-estado foi marcada pela evolução da cultura, política e sociologia.
A estrutura das antigas cidades-estado gregas eram construídas para reforçar a importância de ‘uma vida social equilibrada’. Para alcançar tais aspirações, os mestres artesãos da Grécia antiga desenvolviam seus projetos com base em rigorosas regras e proporções matemáticas, refletindo o avançado nível intelectual, cultural e tecnológico de sua sociedade. (STOUHI, 2020)
Sendo assim, o governo utilizava dos arquitetos e artesãos para transmitir uma sensação de evolução do período Homérico para o período Arcaico, com isso, a população foi fortemente influenciada por esse instrumento político utilizado pelo governo, mesclando a liberdade do povo com o desenvolvimento da arquitetura.
No Período Clássico, os gregos procuraram cultivar a beleza e a virtude desenvolvendo as artes da música, pintura, arquitetura, escultura, etc. Com isso, acreditavam que os cidadãos seriam capazes de contribuir para o bem-comum. Estava lançada, assim, a democracia. A democracia era o governo exercido pelo povo, ao contrário dos impérios que eram liderados por dirigentes que eram considerados deuses, como foi o caso do Egito dos Faraós. A democracia desenvolveu-se principalmente em Atenas, onde os homens livres tinham oportunidade de discutir questões políticas em praça pública. (BEZERRA, 2013)
Essa relação entre arquitetura e democracia estava principalmente associada ao desenvolvimento urbanístico, pois, residências, equipamentos públicos, religiosos e políticos possuíam um viés de aperfeiçoar a estética e aprimorar a evolução dos edifícios, influenciando, respectivamente, nos comércios, na economia e no desenvolvimento das cidades. Atenas foi a principal influência e modelo de política democrática nesse período, onde a população se desenvolveu e cresceu rapidamente, tornando- se a capital da Grécia.
Figura 1. Vista da acrópole da cidade de Atenas no Período Arcaico da Grécia Antiga.
Fonte: FUNARI, 2002. |
O período arcaico da Grécia antiga foi o marco inicial, entretanto, a democracia passou por diversas modificações e evoluções. Ademais, o urbanismo também passou por grandes alterações com base no desenvolvimento do governo e da população. A democracia contemporânea engloba na população, normalmente, mulheres e homens maiores de 18 anos, sendo que o governo consiste em um amplo grupo divididos em: executivo, legislativo e judiciário (para os países democráticos e republicanos).
Nos Estados Unidos, Abraham Lincoln foi um dos principais defensores da democracia, sendo que a arquitetura foi tilizada para o desenvolvimento da população e para a abolição da escravidão.
Sempre fomos muito simplistas sobre a democracia; nós assumimos que este país era uma democracia porque a chamamos assim. Mas agora que somos chamados a morrer pela ideia, descobrimos que nunca percebemos isso em qualquer lugar, exceto talvez em nossos corações secretos. Na vida de Abraham Lincoln, na poesia de Walt Whitman, na arquitetura de Louis Sullivan, o espírito da democracia encontrou expressão, e para na medida em que nós mesmos participamos desse espírito, ele encontrará expressão também em nós. Sr. Sullivan é um "profeta da democracia", não sozinho em seus edifícios, mas também em seus escritos. (BRAGDON, 1918)
Louis Sullivan, conhecido também como o “Pai dos Arranha-Céus", foi um arquiteto modernista que defendia que “a forma segue a função”, ou seja, objetos, edifícios e a cidade deveriam ser projetadas com base em funções.
Sullivan é mais citado por sua influência em alguns arquitetos modernistas que o seguiram, incluindo seu protégé Frank Lloyd Wright. Embora seja conhecido pelo uso do ornamento, sua verdadeira inovação foi incorporar estilos ornamentais precedentes em novos edifícios em altura que surgiam no final do século XIX, utilizando o estes ornamentos para enfatizar a verticalidade de suas obras. É esse princípio que o levou a proclamar a famosa sentença "a forma segue a função", embora o próprio Sullivan desse os créditos dessa frase a Vitruvius. (STOTT, 2018)
Para ele, as construções deveriam possuir um estilo simples e ao mesmo tempo funcional, mantendo o princípio da valorização das funções sociais. Ademais, essa visão era a representação da democracia através da arquitetura, pois esses edifícios além de serem funcionais, apresentavam uma função social.
Figura 2. Edifício Wainwright Building, uma das obras mais famosas do arquiteto Louis Sullivan.
Fonte: SVEIVEN, 2011. |
Figura 3. Vista da USP (Universidade de São Paulo), uma das principais faculdades públicas do Brasil. Fonte: USP, 2020. |
Já no mundo contemporâneo, alguns governos utilizam da arquitetura como cabide de emprego, e também para convencer a população a seu favor.
Aos moradores foram apresentados alguns dos primeiros sinais desta nova vida na cidade, sediar o Festival Eurovisão da Canção em 2012, que apresentou uma grande reconstrução de estradas; uma enorme extensão de um parque à beira-mar no centro; uma sala de concertos de última geração; o mastro autônomo mais alto do mundo; e dezenas de novas torres de alto perfil. No que foi por muito tempo uma modesta cidade provinciana de prédios baixos edifícios com vista para o Mar Cáspio, essas dezenas de novas estruturas de saliências o vidro e o aço destacam-se pela ousadia. [...] Esses novos projetos têm provado ser extremamente popular com um segmento impressionante de azerbaijanos, muitos dos quais se cansaram da guerra regional e das lutas econômicas diárias do período socialista. Se há um lugar real para eles nessas novas estruturas ou não, esta nova onda de construção teve um pro-efeito fundamentalmente inclusivo. (GRANT, 2014)
Esse trecho de um artigo descreve o desenvolvimento da cidade de Baku, no Azerbaijão, após a independência e segregação da União Soviética. Além disso, o autor evidencia o impacto que a construção de novos prédios mais desenvolvidos geraram para a população, visto que a partir daquele período o país passou a ser um estado independente e democrático. Sendo assim, a arquitetura obteve grande importância para o convencimento de que aquele modelo de política implantado era a ideal.
Figura 4. Vista da cidade de Baku, capital do Azerbaijão. Fonte: PIRES, 2018. |
Com base nisso, é notório que a arquitetura e a democracia possuem uma grande ligação, desde o período da Grécia Antiga até os dias de hoje. Os governos democráticos e os arquitetos utilizam desse meio para difundir sua política e seu pensamento para a população, desenvolvendo o país, mas ao mesmo tempo transmitindo um recado indireto de alienação da população.
REFERÊNCIAS
BEZERRA, Juliana. Grécia Antiga. 2013. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/grecia-antiga/> . Acesso em 15 dez. 2020.
BRAGDON, Claude Fayette. Architecture and Democracy. Virtual Book, 1918. Disponível em: <https://www.fulltextarchive.com/pdfs/Architecture-and-Democracy.pdf> . Acesso em 15 dez. 2020.
BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional nº 26, de 14 de fevereiro de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc26.htm> . Acesso em 15 dez. 2020.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. Virtual Book, 2002. Disponível em: <https://geopraxis.files.wordpress.com/2016/03/livro-grc3a9cia-e-roma.pdf> . Acesso em 15 dez. 2020.
GRANT, Druce. The Edifice Complex: Architecture and the Political Life of Surplus in the New Baku. Virtual Book, 2014. Disponível em: <https://as.nyu.edu/content/dam/nyu-as/faculty/documents/grant--edifice--2014.pdf> . Acesso em 15 dez. 2020.
PIRES, Flávia.Tudo sobre Baku, a capital do Azerbaijão. 2018. Disponível em: <https://www.flaviapiresexplora.com.br/destinos/tudo-sobre-baku-a-capital-do-azerbaijao/> . Acesso em 15 dez. 2020.
STOTT, Rory. Spotlight: Louis Sullivan. 2018. Disponível em: <https://www.archdaily.com/544355/spotlight-louis-sullivan> . Acesso em 15 dez. 2020.
STOUHI, Dima. History of Architecture: Ancient Greece. 2020. Disponível em: <https://www.archdaily.com/942728/history-of-architecture-ancient-greece> . Acesso em 15 dez. 2020.
SVEIVEN, Megan. AD Classics: Wainwright Building / Adler & Sullivan. 2011. Disponível em: <https://www.archdaily.com/127393/ad-classics-wainwright-building-louis-sullivan> . Acesso em 15 dez. 2020.
USP. Reitoria. 2020. Disponível em: <https://www5.usp.br/reitoria/> . Acesso em 15 dez. 2020.
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